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segunda-feira, 2 de março de 2020

«A primeira pessoa» de Ali Smith - Opinião




Confesso que não consigo ficar fã de Ali Smith. Li há muito anos «Hotel Mundo» e lembro de ter gostado, porém não me recordo de nada. Será que gostei assim muito? Já mais breve tentei «Outono», não consegui passar das primeiras vinte ou trinta páginas. Há uma certa alegoria e transcendência que não me cativa nem faz avançar. Estranhando tudo a tal ponto, que nada faz sentido.

No entanto, neste livro de contos «A primeira pessoa» dei por mim a ler dois ou três deles com uma sensação enorme de curiosidade e até sofreguidão, com vontade de perceber a estranheza que envolvia tanto a discussão de duas mulheres à volta dos contos, bem como o delírio de uma outra mulher que se envolve num rapto esquisito e forçado de um bebé alheio.

Ambos os contos são completamente desconexos entre si e qualquer tentativa de ligação é ainda mais difícil do que a de encontrar um sentido em cada conto per si. Ainda assim, a forma como os contos estão organizados: primeira, segunda e terceira pessoa; dão a supor alguma interligação ou intertextualidade. Existindo, eu não a encontrei, a não ser a desconexão e o caos que senti ao lê-los.

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«O verdadeiro conto» em “A primeira pessoa” de Ali Smith

“Cynthia Ozick dizia que a diferença entre o conto e o romance está em que um romance é um livro em cuja viagem, se for um romance bem trabalhado, o leitor se modifica, enquanto um conto é mais como o presente talismânico oferecido ao protagonista de um conto de fadas – algo de completo, poderoso, cujo poder pode não ser ainda bem compreendido mas que pode andar nas nossas mãos ou dentro de um bolso e acompanhar-nos por uma floresta ao longo do caminho da vida.”

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Não importa nada, mas faria muita diferença. A capa da tradução brasileira, talvez prepare mais o leitor para a estranheza que encerram as páginas da narrativa de Smith.


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