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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

«A Submissão» de Amy Waldman - Opinião



"Deixa-me fazer-te uma pergunta. Tu, com as tuas causas liberais, como reconcilias o teu apoio ao islão com o teu apoio aos direitos dos homossexuais, ao feminismo, quando vês como as mulheres, ou os homossexuais, ou as minorias, são tratados em tantos países muçulmano?
- O Khan não é esse tipo de muçulmano.
- Mas então tens uma medida pessoal... os muçulmanos «aceitáveis» são aqueles que concordam contigo."

Quem são os muçulmanos aceitáveis?
Quais são as causas e as minorias por quem é «aceitável» lutar após o 11 de Setembro?
Quem são os que têm direito a decidir sobre o memorial a erguer no ground zero?
A quem pertence a maior dor? Existem mortes mais importantes do que outras? 
Quem tem legitimidade para afirmar sentenças perante temas tão ambíguos como o significado da arte ou a profundidade da dor?

O debate é acesso e pejado de discórdias: as aceitáveis e as manipuladas pela ganância dos media, astutamente personificada por Alyssa Spier. Mohammad Khan tem uma presença ambígua, mas o estado em que se encontra Nova Iorque e a opinião pública também. O conflito tem início com uma fuga de informação e a pressão espalha-se aos mais variados intervenientes. O peso da herança cultural, a interpretação do islão, o significado da arte e a profundidade da dor são o centro deste livro. Ou seja, política. Mas política é também o papel dominante dos jornalistas, das associações, dos debates transformados em manifestações, as angariações e os grupos de suporte, um manancial de intervenientes que espelham uma América divida, com medo e altamente manipulada por muito ruído e pouco espaço à reflexão. 

"(...) temos pessoas a arrancarem os lenços da cabeça das nossas mulheres e os nossos jovens a radicalizarem-se em resposta, e quem pode censurá-los? Isto vai acabar mal. - Virou-se para Mo. - Você está a levar-nos para um mau final. Foi você, não os terroristas, quem sequestrou a nossa religião. Pelo menos os terroristas são crentes. Qual é a sua desculpa?"

O extremismo não está só nas acções, mas também na forma tão "preto no branco" de olhar a um assunto complexo. 
"Mo não tinha o eco - teológico, histórico e histérico - de Mohammad." 
O não entendimento a Khan, assume exposição máxima, negando-lhe qualquer pertença. Sem obter aceitação de nenhum dos lados, Mo é excluídos de uma América que não entende os seus intentos e é igualmente excluídos de uma religião que pede mais do que ele dá. Sobra-lhe a arquitectura para interpretar o que o rodeia.

"Há cinco dias que estava a jejuar. Ele era apenas um grão de areia, entre centenas de milhões de muçulmanos que observavam o Ramadão - (...). Ele via esse período como um edifício, medido de quarto crescente a quarto crescente, fazia de cada dia uma sala, medida do nascer ao pôr do sol. A refeição antes do nascer do dia era uma ombreira e, durante as horas de abstinência, a boca era como uma porta trancada. Mas estes eram os conceitos rebuscados de um arquiteto. A verdade era que não sabia por que motivo estava a fazê-lo..."

O impulso de privilegiar a tolerância e a importância da arte como resposta para a esperança perdida chocam com a própria vulnerabilidade de cada um e o pedido de segurança que é feito por todos. É com muita desta dualidade que todo o enredo se depara, explorando teorias da conspiração que parecem absurdas, mas que pautaram os jornais naquele período conturbado.

"Claire acendeu a televisão, curiosa por saber o que as classes histéricas pensavam disto.
- Num desenvolvimento potencialmente explosivo, o design do memorial pode, na verdade, ser o Paraíso dos mártires - informou com ar sério um apresentador da Fox News, antes de passar a palavra a um painel de especialistas no islão radical.
(...)
- Os restos mortais deles também estão naqueles terrenos. Ele desenhou um túmulo, um cemitério, para os terroristas, não para as suas vítimas. Certamente que sabia que, em árabe, a palavra para túmulo e jardim é a mesma. 
(...) «Jardim da Vitória» gritava o Post. O editorial de opinião do Wall Street Journal chamava ao design de Khan «um ataque à herança judaico-cristã da América (...) uma tentativa encoberta de islamização.», prosseguia o artigo."

A memória colectiva quer manter viva a memória de uma tragédia, mas a necessidade de se curvar perante necessidades tão particulares e outras tão patrióticas, torna impraticável o processo de luto, tornando-o num lugar barulhento e vazio das reflexões necessárias.

"- Lamento, mas um memorial não é um cemitério. É um símbolo nacional, um significante histórico, uma forma de garantir que qualquer pessoas que o visita... por mais ténue que seja a sua ligação em termos temporais ou geográficos com o ataque... compreende como foi, o que significou."


*

A melhor frase de todo o livro:

"A tristeza dele, demasiado grande para um corpo tão pequeno, era como uma sombra que não deixava crescer uma planta."

Opinião "A Vida Amorosa de Nathaniel P."


Outro dia contemplava a mega estante da metade negra quando ela começou a tirar livros da prateleira, a perguntar se já tinha lido este ou aquele livro. É de dizer que voltei com 4 ou 5 nos braços e este "A vida amorosa de Nathaniel P." foi um deles.
Livro do ano de não sei quantas publicações de renome e uma leitura que se revelou como uma tumultuosa e irritante viagem à mente masculina.

Honestamente desejei desistir uma mão cheia de vezes nas primeiras 40 páginas. 
Da última vez que pensei "não dá, não tenho paciência para vaguear na mente de um gajo intelectualóide e todo cheio de si" foi quando embalei e levei a leitura até ao fim.

Nate sempre quis escrever. Filho de uma família emigrante com sua dose de pretensão, Nate frequentou Harvard e algum tempo depois mudou-se para Nova Iorque. Sem um livro debaixo do braço e nem um contrato editorial na calha, Nate comeu nos primeiros tempos graças a pequenos trabalhos, opiniões e outra coisas pontuais para revistas mais ou menos conhecidas. No entanto, quando o conhecemos, o seu nome já se tornou sonante no meio editorial, tem um livro a sair dentro de alguns meses, é invejado por colegas e cobiçado pelas mulheres. 
Como uma personagem que imaginamos a caminhar pelas ruas de Brooklyn enquanto fala para o espectador, em close up para a câmara, Nate vai divagando sobre a sua pessoa, o seu trabalho, mas acima de tudo, sobre as mulheres da sua vida.

E se num momento conseguimos compreende-lo e ser complacentes com ele, no seguinte ele irrita-nos com a sua falta de tacto e incapacidade para ser honesto especialmente em relação ao seu mais recente emparelhamento. 

Por vezes aquilo que dizemos que queremos e aquilo que realmente gostamos de ter são coisas diferentes.
Nós sabemos, as relações não são fáceis. Ou será que deviam ser fáceis e se não o são, é porque não valem a pena?
"Por que raio é que as mulheres, por mais inteligentes, por mais independentes que fossem, revertiam inevitavelmente para este estamos de imbecilidade voluntária?"
Este Nate é um detector de defeitos e detalhes nefastos que minam a imagem da mulher à sua frente. Quando as coisas típicas de um namoro acontecem Ad infinitum (como ele salienta) e a rotina se instala no casal, é quando percebemos o momento em que Nate começa a sabotar as suas relações.

"Por norma os homens querem um motivo para terminar uma relação, enquanto as mulheres querem um motivo para a manter...é por isso que, depois, os homens olham para tudo o que estava mal na relação, para confirmar que fizeram bem em termina-la. As mulheres, por outro lado, voltam atrás e procuram aquilo que podia ter sido diferente, aquilo que podia ter feito com que as coisas funcionassem."
Este "A Vida Amorosa de Nathaniel P." parece ter sido escrito como se um agente infiltrado no cérebro masculino tivesse captado a essência dos pensamentos, desejos e receios dos homens para depois os vender ao sexo oposto. Adelle Waldman cria uma voz para Nate que, arrisco-me a mandar esta afirmação para a frente por falta de cultura e conhecimentos literários, se torna refrescante ao escancarar uma janela mal lavada e com pouca visibilidade para a mente masculina.

E agora, o que pensa a minha metade literária da minha opinião ao livro que ela me sugeriu?

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Opinião "O homem que pensei que eras"

Em todos estes anos de Efeito dos Livros, se há algo de que me posso orgulhar, é de ter consigo manter isto spoiler free!
Falar de "O homem que pensei que eras" sem dar a entender o que se passa mas transmitindo a dimensão da história, o remoinho sentido no peito durante a leitura e o momento em que tive de abandonar a piscina para não chorar na espreguiçadeira....

É complicado. Mas eu vou tentar!


Anna e Mark vivem na sua bolha de felicidade e matrimónio faz alguns anos. Em total sintonia um com o outro, é como uma grande chapada na cara de Anna o momento em que, ao final de um dia completamente normal, Mark chega a casa e com cara de enterro anuncia que acabou tudo, que vai embora para longe, que já não dá para ali ficar e que ela não vá atrás dele.
E nós pensamos
"O quê?? Não dá! Não pode ser! Não se entende?! Não se faz!!"
E entramos no estado de espírito "este gajo passou-se e isto é mais um caso do gajo que saiu para comprar tabaco e não voltou OU é algo mais?"

Acompanhamos Anna, que de coração apertado e completamente de rastos, enquanto confirma que não só ele desapareceu sem telemóvel, como se despediu e ninguém sabe como o encontrar.
Que segredos esconde Mark para necessitar eclipar-se da sua própria vida, abandonando a mulher, a casa e o emprego?
Quão longe terá Anna de ir para revelar uma parte da pessoa que mais ama no mundo e que julgava conhecer?
Será esta ruptura abrupta capaz de danificar o amor que Anna sente e que então era partilhado e valorizado por ambos?
"...tentarmos escudar-nos de sofrimentos e dores futuras isolando-nos do amor é só fazer mal a nós...e aos que nos rodeiam. Por isso, mais vale correr esse risco, porque a vida vai acontecer, quer queiramos quer não."
Vá, agora que já vos falei da historia, tenho se referir o como esta me abalou a harmonia veraneante em férias com leituras fofinhas. 
Dizer que me deprimiu era abusar mas senti-me como se Anna fosse aquela amiga que tem uma situação pesada a acontecer na sua vida e por isso temos de meter tudo em pausa na nossa e tentar ajudá-la. Ouvir os seus lamentos, dar apoio quando as forças lhe faltam, participar nas buscas e se tiver de ser, se o que ele tiver feito não tiver perdão, ser uma das que vai buscar o taco de beisebol e aponta às canelas do tipo.
No entanto, quando Anna começa a avançar na história vamos baixando o taco e levantando a mão para aparar as lágrimas que teimam brotar-nos dos olhos.
Perante uma questão destas ...
Como será que reagiamos?
Será egoísmo pensar no bem estar dos outros mesmo que repleto de ignorância e dor, ou devemos aceitar a mão que nos estendem e permitir que nos acompanhem?

"O homem que pensei que eras" é uma aposta

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Opinião "Um de nós mente"


Um jovem morre misteriosamente rodeado de quatro pessoas que, ainda sem saberem, têm todos os motivos para o querer ver desaparecer da face da terra.
  Antes do fatídico dia em que Simon morreu, ninguém se aproximava muito dele. Conhecido pela capacidade digna de Agente Secreto para descobrir segredos dos outros e o à vontade com que os divulgava no seu site "Má língua", Simon não era uma das pessoas mais amadas de Bayview High. Na realidade, distância era a medida que todo o corpo estudantil aplicava, não fosse algum dos seus dirty little secrets acabar publicado aos olhos de todos. 

Quando conhecemos o quarteto presente no momento chave da abertura deste livro não podemos deixar de nós rir pelo grupinho Breakfast Club mais típico de sempre... 
Bronwyn, o cérebro, a aluna dedicada, a filha perfeita e total cumpridora das regras. 
Cooper, o desportista, estrela em ascensão da equipa de basebol e menino lindo sulista cheio de boas maneiras. 
Nate, o ovelha negra, actualmente em liberdade condicional por vender droga e com um suporte familiar igual a zero. 
Addy, a menina bonita, com o cabelo e o namorado perfeito mas sem grande coisa na cabeça. 
Quem são realmente Bronwyn, Cooper, Nate e Addy além do estereótipo que representam?
Que etiquetas se colariam à sua imagem actual se o que escondem viesse a público?
 Numa dança das cadeiras onde todos têm segredos e ninguém é bem o que parece ser, quem é que não vai conseguir lugar no banco dos inocentes quando a música acabar ? 


E sabem, "Um de nós mente" começa a matar....mesmo!
Somos levados a descobrir cada camada da personalidade, do passado e presente dos diversos intervenientes que estavam no castigo desse dia, inclusive de Simon.
Ao longo da história a autora conseguiu que se apontasse o dedo a todos, sem excepção e quando finalmente perceberem vão concluir o mesmo que eu
"Estes putos são marados!"
Mas eu gosto de gente marada, por isso, adorei este livro.
"Um de nós mente" pode ter pitadinhas de Breakfast Club, Pretty Little Liars e outras histórias do género mas consegue prender o leitor pelos detalhes de cada personagem porque, assim como nos exemplos mencionados antes, há sempre uma personagem com quem simpatizamos mais.
Comigo foi o Nate.
Qual foi o vossa?

"Um de nós mente" é uma aposta

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Opinião "Noiva Até Sexta"

Livro lido na versão original em Fevereiro de 2017


Percebi que este "Noiva Até Sexta" de Catherine Bybee, que saiu em Agosto, é nada mais nada menos, que a história de Gwen e Neil que já devia ser sido lançada antes de outro que já saiu mas ooh well!
Aqui fica a mini opinião que escrevi na altura e que publico agora com o lançamento da versão portuguesa.

Gwen, a ingénua, a irmã do Duque, a "Princezinha", aquela que não sabe tomar conta dela própria e que é protegida por todos que a rodeiam. Enganam-se todos os que a julgam indefesa e tontinha.
Ao longo dos últimos dois livros, Gwen tem-nos vindo a conquistar e a derrubar a barreira que existe entre ela e Neil, o responsável pela segurança privada dos Harrison. Sabem aquele tipo durão, ex-fuzileiro e homem de poucas palavras? Esse mesmo!
Pode até parecer um pouco rápido a evolução do casal neste livro, especialmente se não têm feito a leitura por ordem mas há muito sentimento e te(n)são entre estes dois casmurros. Ela é uma desafiadora e ele um resistente.
Quanto tempo vão aguentar?
Será necessário uma questão de vida ou morte para os fazer avançar?
Ou era tudo uma questão de tempo para ela ficar noiva até sexta-feira?

Adoro esta série! Sabe tão bem reencontrar personagens que já conhecemos de livros anteriores.
Carter e Eliza lá estão felizes e contentes. Sam e Blake vivem a sua vidinha muito bem acompanhados com os seus rebentos e saltitam numa onda de felicidade que os leva ano a ano a renovar os seus votos. Se no ano anterior foi no Texas, onde sabemos que as coisas aqueceram bastante, este ano é em Aruba.
Gwen e Karen estão à frente da Alliance, mais focadas do que nunca em expandir a rede de clientes da agência, tanto que Karen acaba por garantir a data do seu primeiro casamento e divórcio (oh esta parte da história....pano para mangas!!)
Consequentemente Gwen acaba por ficar sozinha na casa da Agência e por mais vigilância que tenha, coisas estranhas começam a acontecer. Será algo relacionado com a Agência ou com eles directamente?
Neil não arrisca e quando uma ameaça do passado retorna, deixando Gwen no meio do fogo cruzado, ele move o mundo para salvar a vida da mulher que o tem vindo a conquistar lentamente a cada novo dia.
Mas será ele capaz de se salvar a si mesmo?
E a mulher que mexe tanto com a sua cabeça como com o seu coração?

O suspense foi bem desenvolvido, com situações que nos deixaram na pontinha da cadeira para saber se tudo corria bem e chegávamos bem ao final.

Oh Catherine como eu adoro os teus livros!

 "Noiva Até Sexta" é parte integrante da série Weekday Brides de Catherine Bybee, uma aposta
Relembro a opinião aos outros livros da série:

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Opinião "Parem todos os relógios"


São poucos os livros que ao longo do ano saltam entre as duas estantes que compõem o Efeito dos Livros. As nossas leituras são diferentes, sempre o foram. Depois há livros como “Parem todos os relógios”, uma sugestão da metade negra à colorida e que terminou com uma troca de ideias, questões e desejos de continuação, tudo num telefonema feita 2 minutos após ter terminado a leitura.
É bom encontrar livros que podemos partilhar com outras pessoas e ver que não fomos os únicos a ser consumidos pela história. A história da Tia Helena, como carinhosamente apelidei “Parem todos os relógios”, já chegou às minhas mãos com as notas e os cantos dobrados da mana mas preciso de abrir esta opinião com uma das frases que me fez sorrir:
 “Antes de Fabrizio, habituara-se a viver sem um homem a seu lado, certa de que, comparadas com as paixões da literatura, as que o mundo lhe oferecia eram mornas. E, porque acreditava no aviso do Livro do Apocalipse de que Deus vomita os tépidos, conformara-se com o seu destino de solteirona: não podendo ferver, preferia ser gelada”.
 Helena Remington viveu um grande amor, um daqueles proibidos e que queima tudo à sua volta tal é a intensidade com que arde. No entanto, os últimos 20 anos não foram capazes de apagar as memórias suspensas no tempo idílico que viveu com Frabrizio​​ mas a incapacidade de estar com o homem que sempre amou não fez da Tia Helena uma pessoa amargurada ou revoltada com o mundo. Filha de uma família de bem e mulher num tempo em que ter um homem como cabeça do agregado familiar era a única coisa lógica para se fazer com a vida de uma mulher, Helena mudou-se para a capital, exerceu a sua profissão com o mesmo fervor que sempre dedicou às coisas que a interessavam e foi um pilar na vida de outro personagem que conhecemos neste livro, o seu sobrinho-neto Carlos. 
Uma narrativa que nos apanha logo com a entrada com um mistério, que desenvolve maravilhosamente a trama de cada personagem e que nos faz saltar entre momentos chave que se passam ao longo de décadas, este "Parem todos os relógios" faz-me pensar no quanto os segredos nos podem consumir ou fazer manter a sanidade.

Eu já o sugeri a uma mão cheia de amigos. Agora venho reforçar a minha sugestão a quem por aqui passa.
Aproveito para deixar a opinião da mana, que foi quem me sugeriu a leitura.

Boas leituras !

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Opinião "O que fica somos nós"

Eu tenho uma certa e doentia preferência por romances que doem, por histórias impossíveis e por amores não correspondidos. 
Quando li que este "o que fica somos nós" era um encontro entre "Um dia" e "Viver depois de ti" sabia me iam arrancar pedacinhos do coração e não me enganei. 
Dei comigo a pensar "gostaria de ter escrito este livro". 


Lucy e Gabe conheceram-se num dia que ainda hoje me faz engolir em seco quando penso na data, 11 de setembro de 2001. O mundo mudou e consequentemente também todos nós mudámos. Para Lucy e Gabe foi o começo de algo arrebatador e honesto mas também o dia em que prometeram fazer os possíveis para deixar uma marca no mundo. Se para Lucy era mudar mentalidades das gerações futuras, para Gabe era mostrar a realidade ao mundo com as suas fotografias.
Mesmo quando tudo à nossa volta é um mar de rosas, há espinhos que mais tarde ou mais cedo acabam por nos ferir. Por vezes é o mundo que não nos deixa seguir o caminho que queremos e outras vezes somos nós que escolhemos um destino diferente e que não se mantém interligado com o da pessoa que mais amamos. 

A história de Lucy e Gabe é-nos contada pela voz de Lucy e isso aproxima-nos dela, quer pela dor que lhe reconhecemos quer pelas dúvidas que todos nós um dia já tivemos por mais perfeita que seja a nossa vida a determinado ponto. Quem nunca foi assaltada por um nome, um perfume ou a visão de alguém do passado? Quantos de nós temos uma pessoa nos nossos passados que ainda acampa no nosso coração e nos atormenta a alma? 

"Nunca senti que fosses meu no mesmo sentido em que o Darren o era...sempre me pareceu que pertencias a ti próprio e que te emprestava a mim quando te apetecia; nunca te possui completamente" 

Oh como eu gostei de ler esta história!
Passamos o livro a conhecer a sua história. O momento que se conheceram, o tempo que o fogo da sua paixão consumia todo o mundo em seu redor e os anos que passaram separados. Ao longo da leitura temos mil e uma ideias sobre o que se passou ou em que ponto estão agora. Queremos saber se eles algum dia voltam a ser o "nós" que internamente nunca deixaram de ser ou porque raio só ouvimos a voz de Lucy ao longo de todo o livro. E depois, se forem como eu, percebem tudo e fazem os possíveis para aguentar as lágrimas até ao final.

Este era daqueles livros que em filme resultava tãooooooooooooo bem :) 

Uma aposta

sábado, 11 de agosto de 2018

Opinião "Um Acordo Muito Sedutor"

Nem acredito que tive este livro na estante durante tanto tempo. Desculpa livrinho pelos 3 anos em que te ignorei :P
"Um acordo muito sedutor" é mesmo o tipo de leitura que me puxa para o modo leitura voraz que eu tanto aprecio. 


Louisa Stratton cresceu órfã. Quando os pais faleceram, ela tinha apenas quatro anos e desde esse momento todos os passos da sua vida foram controlados pela tia, que com punho de ferro comandou Louisa, a sua fortuna e Rosemont, a casa de família. E quando esse aperto afrouxou um pouco, Louisa não perdeu a oportunidade para agarrar a liberdade. Após uma viagem de um ano com apenas a sua fiel criada e amiga Kathleen por companhia, Louisa passeou, viveu, conduziu carros por caminhos perigosos e fugiu às responsabilidades mas pregou a maior mentira de todos os tempos, a que tinha conhecido e casado com o grande amor da sua vida, Maximilian Norwich. Agora no regresso a casa para solucionar de uma vez por todas os problemas que a afastaram, tem duas soluções: contar a verdade e ser considerada louca ou encontrar alguém que possa ser Maximilian por um mês 😃

 Charles Cooper é um capitão do exercício a quem os estilhaços da guerra feriram a alma e o corpo. Desde que regressou a Inglaterra, o único consolo que encontra é no esquecimento que uma gigantesca quantidade de gin lhe proporciona. Determinado em se manter afastado de tudo e todos, não é com bons olhos (ou olho, já que perdeu um na guerra) que vê a proposta da magnânima senhora Evensong, a proprietária da agência de recrutamento mais credível e respeitável do reino. Tudo o que Charles precisa de fazer, além de se manter sóbrio, é fingir ser o marido da herdeira Louisa Stratton no seu regresso a Rosemont. 

O que à primeira vista até parecia fácil, não o é, ou não fosse ela própria um caso especial e houvesse demasiada gente atrás da sua fortuna. A estadia em Rosemont é atribulada por mil e uma razões mas com especial ênfase no facto de alguém atentar contra a vida de Charles/Maximillian logo no primeiro dia e a atração entre o suposto casal começar quase que de imediato. Determinados em descobrir a verdade sobre o que se passa em Rosemont enquanto fingem ser marido e mulher em público mas andam secretamente a consumar o seu "casamento" em privado, Louisa e Charles criam um casal muito à frente do seu tempo, com uma dinâmica dentro e fora do quarto capaz de rivalizar com os grandes casais atormentados que temos conhecido em tantas histórias deste género. 
Separados têm as suas falhas, juntos são invencíveis.

Pena que não se tenha apostado mais nos livros desta autora. A série "Ladies Unlaced" tem mais três volumes e todos com uma mãozinha da Sra. Evensong

"Um Acordo Muito Sedutor" é um livro 

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Opinião "36 perguntas que me fizeram gostar de ti"

 
Qual foi a última vez que tiveram um encontro com um estranho?
Sei que na era da Internet, do Tinder e companhia isso é capaz de ser bem comum mas mesmo assim garanto que existem muitos de vós que responderam "nunca" ou "nem pensar" à minha pergunta.
Agora imaginem que são pessoas predispostas a responder a inquéritos, estudos de mercado e coisas do género. Achariam interessante o confronto de dois desconhecidos, escolhidos aleatoriamente, perante 36 perguntas feitas para se ficarem a conhecer melhor, quem sabe, até se apaixonarem?
Eu acho a experiência uma coisa curiosa e creio que por vezes encontramos mais facilidade em abrirmos a alma a um estranho, do que a quem nos conheceu toda a vida.

Hildy é a típica menina de boas famílias, voluntariosa por natureza que decide participar no estudo por puro "desporto", ou melhor, por interesse na área de psicologia. Quando descobre a temática fica um pouco de pé atrás, talvez por complicações amorosas passadas mas não hesita em avançar.
Já Paul chega desinteressado e pronto a despachar tudo num ápice, já que o incentivo à participação só é recebido no final.
O completo oposto a Hildy, que fala sem parar quanto mais nervosa está, Paul parece inicialmente arrogante e mais interessado em queimar o tempo do que ouvir a parceira no estudo mas quando o verniz entre ambos estala é que a coisa anima a valer.
Serão estas 36 perguntas suficientes para que os pólos opostos se atraíam?

Duas pessoas que caso se cruzassem na rua não olhariam uma para a outra com interesse, encontram nesta "experiência" o escrutínio que lhes permite olhar para si e para o outro com uma perspectiva diferente.
Um romance que me surpreendeu pela positiva e que me deixou a querer mais. Mais história, mais um livro, mais Paul e Hildy.

E vocês? Estão dispostas a sentar frente a frente com um desconhecido e responder honestamente a 36 perguntas que vos colocam a alma a nu?
Leiam o livro de Vicki Grant e confirmem isso mesmo. Eu dei por mim a responder às perguntas para mim própria e pensei no quanto deve ser um desafio olhar outra pessoa nos olhos e deixar sair cá para fora a verdade.

"36 perguntas que me fizeram gostar de ti" é um livro

Opinião da metade negra

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Opinião "Se eu tivesse um Duque"

Estes Duques da Desgraça são a minha perdição!
Depois do escandaloso duque de Harland e da falsa Lady Dorothea, em "Conquistar um Duque", temos a oportunidade de conhecer a verdadeira Thea e saber mais detalhes sobre o fugidio Duque de Osborne. 


 Educada para ser uma Lady refinada com as arestas todas limadas pela sua mãe a Condessa Beaumont, Dorothea tem sido sempre uma desilusão. Com duas temporadas repletas de gaffes e uma trapalhada de todo o tamanho no seu quase casamento com o Duque de Harland, Dorothea foi enviada para a Irlanda para casa de uma tia até ser novamente inserida na sociedade para aquela que será a sua última oportunidade. Determinada em passar despercebida e assim poder voltar à pacatez do campo onde pode sonhar com arte, em especial com a misteriosa vida da pintora Artemísia Gentileschi, Dorothea vê os seus intentos gorados quando numa tentativa de chamar a atenção do Duque de Orborne para os quadros da sua casa irlandesa, acaba no centro das atenções do primeiro baile da temporada e se torna a solteira mais desejada de Londres. Determinada em responsabilizar o culpado, nada mais nada menos que o libertino e fugidio Duque, Dorothea arrisca a sua reputação ao entrar nos aposentos ducais para exigir que este desfaça o mal que lhe fez ou compactue com a sua fuga para a Irlanda. O que ela mal sabe é que essa noite iria mudar o rumo da sua vida para sempre. O Duque não é apenas um homem indulgente e o ocioso. O sensacionalismo em volta dos seus casos amorosos é apenas um capote que encobre as suas actividades de justiceiro e a sua saga de vingança pela morte do irmão.

Da escura noite Londrina, de onde fugiram à pressa e descontentes com a companhia um do outro, até à costa da Irlanda onde colocam a nú a sua alma (e não só), Thea e Dalton (o Duque!) fazem deste "Se eu tivesse um Duque" uma magnífica continuação à série iniciada pela meia irmã dela e o melhor amigo dele. 

 "Desde que estejamos vivos, podemos mudar. Até sermos ossos a descansar numa cripta, temos o poder de moldar os nossos destinos" 

 E é com mestria, engenho, prazer e perdão que estes dois derrubam as barreiras que sempre os rodearam, quer tenham sido erigidas pela exigência da família, a sede de vingança ou a falta de confiança em si próprios. Adorei este Duque e Thea não lhe fica nada atrás. Adorei relembrar os quadros de Artemísia Gentileschi que como Thea, tive o prazer de observar durante muito tempo nas Uffizi em Florença. Curiosamente foi um livro que me levou lá. Quem diz que os livros não têm nada de interessante?!  

Estou bastante curiosa para saber o que se segue. Lorde Hatherly, está preparado para o seu escândalo amoroso?
Já estou a esfregar as mãos :D

Esta é uma novidade


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Opiniao "A Ilha dos Segredos"

"Temos tendência para projectar o que queremos ver nas pessoas, ou o que achamos ser a verdade em relação a quem são"


Melhor que estar de férias é conseguir ler uma história que nos faz viajar para outro destino onde teríamos todo o gosto de ir e ficar lá perdida durante uns meses.
O encanto das ilhas gregas é-nos incutido ao longo de todo este romance, assim como a compreensão grega sobre os diversos tipos de amor, a devoção à família e a dualidade que o ser humano encontra quando o que mais deseja no mundo e o que deve fazer não coincidem.
 
Anna viveu a sua vida em Inglaterra e esta tem sido a sua casa desde sempre, no entanto, a ilha grega de onde o pai é natural e onde passou bons momentos da sua vida, ocupa um lugar especial no seu coração.
Quando a sua vida entra num momento montanha russa, em que o seu casamento sofre um abalo, a saudade da falecida mãe é insuportável e a necessidade de aproveitar tempo de qualidade com o pai é imperativa, Anna ruma à pequena ilha no mar Egeu para um verão repleto de horizontes a perder de vista, cheiros que a transportam para o passado e tempo que sobra para aproveitar a companhia do pai e dos familiares paternos.
No entanto o que Anna encontra é um verão com sabor à adolescência, repleto de noites ao som das ondas, dos cantares gregos e do tilintar de copos pela noite dentro.
É na ilha que irá igualmente encontrar alguma paz de espírito para voltar a desenhar pelo meio da natureza e sem querer, abrir uma janela para o passado, um conhecimento que a vai fazer colocar toda o seu passado em perspectiva e quem sabe moldar para sempre as decisões e a maneira como dá rumo à sua vida.

Uma lição sobre amor, família, herança cultural e o sentido que cada um dá à palavra "casa".
Mais que o sítio onde vivemos ou nascemos, "casa" pode assumir uma multitude se locais, caras ou momentos.
Poderá até ser um sentimento?


"A ilha dos segredos" é um romance de verão com a capacidade de nos fazer mergulhar de cabeça na leitura e esquecer a piscina que cintila à nossa frente.
Será que posso fechar os olhos aqui e abri-los de frente para o mar Egeu?
Esta descrição toda de sombras de limoeiros, noites quentes ao som de guitarras e copos, movimentos constantes do mar e o carácter grego só me deixou com mais vontade de ir à Grécia.
Posso ir umas semanas para uma destas ilhas no mar Egeu? Eu até aprendo um pouco de grego, não me importo.

Boas leituras
"A Ilha dos Segredos" é uma novidade