quarta-feira, 27 de novembro de 2019

«O Fim da Solidão» de Benedict Wells - Opinião

Benedict Wells arrecadou o Prémio de Literatura da União Europeia, entre outros na Alemanha, com um romance sobre a dor da perda, a marca da infância e a tentativa de reconstrução emocional (e familiar) de quem vive com ausências precoces. A narrativa acompanha Jules e os seus irmãos após a morte dos pais, num percurso de afastamento, silêncio, solidão aquando do internato num colégio e mais tarde, crescimento, reencontros e regressos.

Apesar do arranque com peso narrativo, a leitura deixa uma sensação de ambiguidade. A crítica reconhece-lhe “um dom extraordinário de imaginação”, mas essa criatividade não se reflete de forma evidente na estrutura — até bastante linear — ou na abordagem dos temas. Até no tema mais importante, o da preservação da memória, o enredo é vago e a densidade real remetida para constantes referências a músicas e livros, deixando o leitor à procura de mais.

O tom sensível e emocional domina a escrita, mas nem sempre em benefício do enredo. Ao procurar sublinhar o trauma de forma intensa, por repetição, arrisca-se a atenuá-lo. Fica a sensação de que o texto luta por conseguir equilibrar profundidade, superação e desapego enquanto narra uma jornada íntima ao mesmo tempo que criar uma atmosfera cultural e intertextual, quando tudo o que Jules nos quer dizer é que existem dores que permanecer irresolúveis. E isso pauta a primeira metade do livro e é a melhor!

O romance entra cedo num padrão psicológico repetido: infância trágica → internato → distanciamento → reencontro amoroso → crise adulta e fecha-se sobre si mesmo, gerando um peso narrativo que pode conquistar alguns leitores, já a outros pode cansar porque desacelerar o ritmo narrativo e atribuir-lhe previsibilidade. E é o que acontece com a segunda metade da história.

O final, esse, fecha tudo de forma quase terapêutica. É um final demasiado “arrumado”, quase que sereno — deixando uma sensação de que tudo se cumpriu segundo um plano.