
Benedict Wells arrecadou o Prémio de Literatura da União Europeia, entre outros na Alemanha, com um romance sobre a dor da perda, a marca da infância e a tentativa de reconstrução emocional (e familiar) de quem vive com ausências precoces. A narrativa acompanha Jules e os seus irmãos após a morte dos pais, num percurso de afastamento, silêncio, solidão aquando do internato num colégio e mais tarde, crescimento, reencontros e regressos.
Apesar do arranque com peso narrativo, a leitura deixa uma sensação
de ambiguidade. A crítica reconhece-lhe “um dom extraordinário de imaginação”, mas
essa criatividade não se reflete de forma evidente na estrutura — até bastante
linear — ou na abordagem dos temas. Até no tema mais importante, o da preservação
da memória, o enredo é vago e a densidade real remetida para constantes
referências a músicas e livros, deixando o leitor à procura de mais.
O tom sensível e emocional domina a escrita, mas nem sempre
em benefício do enredo. Ao procurar sublinhar o trauma de forma intensa, por
repetição, arrisca-se a atenuá-lo. Fica a sensação de que o texto luta por
conseguir equilibrar profundidade, superação e desapego enquanto narra uma
jornada íntima ao mesmo tempo que criar uma atmosfera cultural e
intertextual, quando tudo o que Jules nos quer dizer é que existem dores que permanecer
irresolúveis. E isso pauta a primeira metade do livro e é a melhor!
O romance entra cedo num padrão psicológico repetido: infância trágica →
internato → distanciamento → reencontro amoroso → crise adulta e fecha-se sobre
si mesmo, gerando um peso narrativo que pode conquistar alguns leitores, já a
outros pode cansar porque desacelerar o ritmo narrativo e atribuir-lhe
previsibilidade. E é o que acontece com a segunda metade da história.
O final, esse, fecha tudo de forma quase terapêutica. É um final
demasiado “arrumado”, quase que sereno — deixando uma sensação de que tudo se cumpriu segundo um plano.