Entramos por este drama adentro fechados num armário, escondidos como quem fez asneira ou quem não quer ser apanhado. Tacteamos no escuro, mantemos o silêncio e quase não respiramos. Podia ser uma brincadeira, mas não é. Começamos nesse armário com medo e seguimos por outro armário para combater o luto e a vida que se complica para este menino apenas de seis anos.
É pelos seus olhos que vamos conhecendo o que lhe aconteceu na escola, mas também em casa, numa luta renhida entre um pai e uma mãe perante a dificuldade de enfrentar o futuro. "Um cego a andar" é o título de um capítulo e uma frase que faz muito sentido nesta forma de colocar um menino a narrar a sua vida e a dificuldade que é encarar os enigmas e as metáforas que são as decisões e as frases dos adultos.
É no descodificar desse mundo que o rodeia que os capítulos ganham imenso e apaixonam o leitor, prendendo-o à acção, perguntando-se o que se seguirá e onde ficaremos especados a olhar, imaginando a situação, ilustrando-a na nossa cabeça e já com uma lágrima a se abeirar, até porque Zach usa algumas referências de adultos para ilustrar as palavras novas que aprende ou as actividades extra que faz na escola.
Com Matsuo Bâshó ele quer aprender a beleza das pequenas coisas e dos gestos simples.
Com Frida Khalo aprende a dar tons fortes ou fracos para colorir sentimentos, pois acha que as palavras não chegam.
Com livros que lê sozinho aumenta o seu dicionário pessoal para compreender o mundo dos adultos e de lá tira lições que deseja ensinar aos pais.
Dos filmes do Hulk pensa no bom que seria ter aquela força verde, mas ao mesmo tempo deseja saber conter a raiva que esmaga tudo.
Uma nova missão e um outro rumo aparece com a palavra "comiseração", Zach quer saber o que significa e o que deve fazer com ela; daí até à "missão urgente"ainda rolaram muitas lágrimas, mas Zach sabe que, tal como os seus heróis, terá de ser corajoso e seguir adiante.
«Filho Único» é um livro para se ler de rompante e sentir tudo o que está lá para ser sentido.
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