quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

«confissões de uma quarentona na m*rda» de Alexandra Potter :: Opinião


#queraioestoueuafazercomaminhavida


Podia ser o subtítulo deste «confissões de uma quarentona na merda», com o “e” devidamente assumido em «merda», já que há muitos anos alguém me disse: “a merda aduba a vida!” e em algumas das peripécias da vida de Nell assenta que nem uma luva.

“Parei. Se havia uma metáfora para a minha vida, era aquela. Eu estava do lado de fora a observar os outros que estavam do lado de dentro de todas aquelas cenas reconfortantes de felicidade doméstica.”

Porém, não tão rápido como devia, que isto afinal é um romance (embora imite bem a vida), Nell começa a perceber, talvez pelos exercícios de gratidão, que a sua vida também tem cenas reconfortantes, sejam elas de felicidade, de aventura doméstica ou de amizades improváveis e amigos peludos. A felicidade não tem uma receita definida, mas tem por certo alguns ingredientes essenciais e são esses que Nell irá redescobrir, juntamente com uma (ou duas) cheia de pequenas pérolas:

- a miopia vem com a idade para nos proteger

- partilhar casa pode ser uma forma de nos domesticarmos (ou tentarmos!)

- ter um diário não é ridículo, nem tem idade, mas é um exercício de nudismo que contraria a miopia dos quarenta

- gratidão é mais que uma hashtag

- um podcast pode ser uma coisa poderosa

- yoga, superalimentos, sumos verdes e afins, não são para toda a gente

- um cão e um livro podem ser a nossa tribo

- a terapia pode acontecer em qualquer lado e revelar-se numa frase

- a contrariedade existe porque a vida é complicada e nós também, tal como a ansiedade 


E podia continuar a enumerar.

Alexandra Potter coseu muito bem esta história, alinhavando algumas futilidades da vida moderna com a mesmice dos dias, revolvendo-as muito bem nos problemas que se podem ter, aos 40, aos 50 ou até aos 80, mostrando que, todos contamos a mesma história, várias vezes, “mas de cada vez que a conto a mim própria, há uma parte de mim que tem esperança de que o fim seja diferente.”

Diferente é aprender a resignificar e não querer adivinhar. Talvez esses ingredientes é que não possam faltar: “não saber como uma história acaba também pode ser bastante emocionante.”, seja num livro, numa amizade ou ao pensarmos no futuro.

Uma pequena mostra da minha própria lista de gratidão ao ler este livro podia ser:
- rever-me na gratidão de ter um cão e embrenhar o rosto no seu pêlo;
- rir-me com as entradas da Nell ao expressar a sua gratidão;
- reler passagens e não saber por que motivo as destaquei 🤷‍♀️
- levar menos a sério a escolha de algumas leituras
- descobrir o significado de JOMO que é quase o mesmo que "viver debaixo de uma pedra" 🙏
- cruzar este livro, com este da Lori Gottliebe e pensar talvez devesse relê-lo ;)