Ao pegar e ler: “A Brigada de Homicídios não gosta da detetive (vou fingir que está lá o “c”) Antoinette Conway. (...). Consegues vencer um assassino, mas vencer a tua própria equipa é outra coisa.” fiquei logo de pulga atrás da orelha.
“Breslin abre a porta para que eu possa sair primeiro da sala de observação e não trocar uma palavra com Steve nas costas dele – não que precisemos de trocar sussurros, mas ainda assim. O corredor devia envolver-me com a familiaridade de um lar: tem a tinta verde a descascar e a alcatifa gasta e tudo; devia parecer um caminho conhecido através do meu território, levando-me direita e em segurança (…) em vez disso, parece um trilho não assinalado através da terra de ninguém pejado de buracos traiçoeiros e armadilhas.
(…). Nunca tinha percebido que precisamos realmente que a brigada seja uma parte de nós, próxima e de confiança como o nosso próprio corpo, para conseguirmos sobreviver a ela.”
Um thriller psicológico, carregado de muita lama a turvar a água, onde os que deviam ser os bons são os maus (aparentemente) faz sempre pensar nos motivos por que tal acontece e por isso mesmo eu queria ter recebido mais deste livro, no entanto, o forte deste enredo está na perseguição que Conway sente e o texto explora e transborda dessa pressão psicológica de que é vítima por parte da sua equipa e em especial pelo pavãozinho inchado do Breslin (UMA TOUPEIRA?). Isso tudo, junto com a teoria dos “ses” em que o detective Stephen Moran (o colega e compincha de Conway) é perito e que lhes dá pilhas de nada (mas que dão trabalho), fazem o livro e justificam a sua leitura numas tardes de esplanada a torrar ao sol (enquanto na Irlanda o tempo faz caretas – sempre!).
“- E se ela o encontrou? (…) E se afinal não fosse um namorado? Se fosse o pai dela? (…), dou dar em doida se tiver de aguentar mais tempo esta merda do se.
- Está bem – diz Steve (…). Então, se o pai quer compensá-la pelos anos…
- Caralho – respondo, ligando o Kadett e ficando a ouvi-lo protestar por ter sido acordado. – E se eu te pagar para não fazeres essa merda? Funciona?
- Devias tentar. Aceito cheques.
- Aceitas barras de Snickers? Porque pelo menos fechas a matraca quando estás a comer.
Encontro o Snickers na mala e atiro-lhe para o colo, e ele dedica-se a devorá-lo. (…). Sei que o Steve não é o puto sardento simplório que aparenta ser, mas ainda assim… Parece, isso sim, estar a pensar no chocolate.
- O que foi? – pergunta com a boca cheia.
- Nada – respondo. – O silêncio combina contigo, só isso. – E dou por mim a sorrir ao avançar para o meio do trânsito.”
French tem um discurso cáustico e humoristicamente negro que elevam o livro e melhor, consegue-o ao longo das mais de 450 páginas, sem cansar o leitor, até mesmo quando a acção e alguns desfechos são previsíveis.
E os diálogos são top! Sejam eles entre a dupla de novatos: Conway e Moran ou Conway e Breslin a embirrarem e a desconfiarem um do outro, ou ainda em dois momentos muito bons de interrogatório, superando a já habitual cena do polícia bom, polícia mau.
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