#queraioestoueuafazercomaminhavida
Podia ser o subtítulo deste «confissões de uma quarentona na merda», com o “e” devidamente assumido em «merda», já que há muitos anos alguém me disse: “a merda aduba a vida!” e em algumas das peripécias da vida de Nell assenta que nem uma luva.
“Parei. Se havia uma metáfora para a minha vida, era aquela. Eu estava do lado de fora a observar os outros que estavam do lado de dentro de todas aquelas cenas reconfortantes de felicidade doméstica.”
Porém, não tão rápido como devia, que isto afinal é um romance (embora imite bem a vida), Nell começa a perceber, talvez pelos exercícios de gratidão, que a sua vida também tem cenas reconfortantes, sejam elas de felicidade, de aventura doméstica ou de amizades improváveis e amigos peludos. A felicidade não tem uma receita definida, mas tem por certo alguns ingredientes essenciais e são esses que Nell irá redescobrir, juntamente com uma (ou duas) cheia de pequenas pérolas:
- a miopia vem com a idade para nos proteger
- partilhar casa pode ser uma forma de nos domesticarmos (ou tentarmos!)
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ter um diário não é ridículo, nem tem idade, mas é um exercício de nudismo que
contraria a miopia dos quarenta
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gratidão é mais que uma hashtag
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um podcast pode ser uma coisa poderosa
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yoga, superalimentos, sumos verdes e afins, não são para toda a gente
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um cão e um livro podem ser a nossa tribo
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a terapia pode acontecer em qualquer lado e revelar-se numa frase
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a contrariedade existe porque a vida é complicada e nós também, tal como a
ansiedade
E podia continuar a enumerar.
Alexandra Potter coseu muito bem esta história, alinhavando algumas futilidades da vida moderna com a mesmice dos dias, revolvendo-as muito bem nos problemas que se podem ter, aos 40, aos 50 ou até aos 80, mostrando que, todos contamos a mesma história, várias vezes, “mas de cada vez que a conto a mim própria, há uma parte de mim que tem esperança de que o fim seja diferente.”
Diferente é aprender a resignificar e não querer adivinhar. Talvez esses ingredientes é que não possam faltar: “não saber como uma história acaba também pode ser bastante emocionante.”, seja num livro, numa amizade ou ao pensarmos no futuro.