"Que monumento (...) Abençoadas entranhas que a criaram."
O comentário é sobre uma mulher, mas bem que podia ser sobre Lisboa.
Ao ler este romance é impossível não fantasiar com uma Lisboa misteriosa, recheada de espiões e jogos políticos, em tempos estratégicos de uma política ditatorial e de amistosas relações com Inglaterra e com a Alemanha .
"No final da guerra, em 1945, eu já era um especialista em mistificação, boatos negros, sujar o nome das pessoas com intrigas, mas, em 1941 ainda dava os primeiros passos nessa sinistra arte..."
Domingos Amaral retrata, com factos mas recorrendo ao romance, uma Lisboa cosmopolita, ansiosa por novidades, mística e até glamourosa, recheada de intrigas, paixões, luxos e mulheres bonitas, que se passeiam nos sonhos dos nossos protagonistas masculinos.
A propósito de Mary: "Jack, ajuda-me, estou a cair (...). Abracei-a. Mas, mesmo nos meus braços, continuou a cair. Homem nenhum tinha força para impedir aquela queda."
A propósito de Alice: "Sexualmente famosa, acompanhante de luxo, gananciosa, perigosa: Alice tinha todas as características de uma mulher a evitar."
E a propósito de Anika:"(...) murmurou em alemão: Eu sabia que isto não ia resultar. Azar dela, eu tinha aprendido alemão na escola. Por isso repliquei na sua língua: - Isto o quê? Abriu muito os olhos: - Fala alemão? Sorri, de novo cínico: - Ninguém é perfeito."
O que isto me fez rir!
Assim que apanhar mais alguma obra de Domingos Amaral, não hesitarei em ler e se fosse a vocês faria igual.
Deixo-vos com um frase: "O mundo é dos que o conquistam. Não dos que sonham."
A leitura é uma viagem por palavras nacionais, estrangeiras, umas cultas, outras menos, umas mais rebuscadas, outras simplificadas, algumas levam-nos às lágrimas, muitas delas às gargalhadas e as melhores, aquelas que nos deixam abismadas, tamanha é a profundeza da ideia, da genuinidade expositiva, onde a simples contemplação daquelas palavras nos deixa assim: sob o Efeito dos Livros!
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Enquanto Salazar dormia, de Domingos Amaral, opinião
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