O que são as recordações? De que são feitas as recordações? Qual é a sua maior recordação? Como nos recordamos melhor do que vivemos, passamos, sentimos, demos e recebemos do mundo?
Uma frase, um cheiro, uma foto, um livro, um local, uma viagem... de que material se compõem as recordações?
"As recordações são uma espécie de ponto de chegada; e talvez sejam também a única coisa que nos pertence verdadeiramente." Marcello Mastroianni
Para além de todas as questões pessoais, familiares, sentimentais... umas mais obscuras, outras mais superficiais, umas loucas, outras banais, este relato biográfico, fotográfico, recordatório de David Foenkinos é acima de tudo um mural de vida. Um brinde à vida, no que de melhor e pior ela tem, recorrendo às recordações, as nossas, as dos outros, os dos artistas, as dos livros, as dos grandes pensadores, das cidades culturais e locais ermos que visitamos...
«As Recordações» são um compêndio de sensações que a vida nos dá, que nós geramos. É a vida à nossa volta quando paramos para pensar nela.
"Queria dizer-lhe que o amava, mas não consegui."
E você, hoje já disse que amava alguém?
Sem ser pretensioso ou ter vaidade com os sentimentos que reconhece, Foenkinos torna-se soberbo nos sentimentos que nos arranca, sem cair em sentimentalismos (isto sem contar com o final, mas esse é brindado com mais qualquer coisa).
Se, «As Recordações» são um hino à vida, as do livro e as nossas, Foenkinos consegue também um olhar profundo e tocante, à morte. No pior e no melhor que ela tem, se assim quisermos ver.
"Compreendi, então, que nunca conhecemos verdadeiramente a vida de um homem."
Foenkinos coloca assim inúmeras questões, disfarçadas na sua escrita jocosa, mas apelativa, negra, mas festiva, já que ninguém se lembraria de ir morrer a Roma, ou lembraria e faria-o com grande gosto.
Recheada de episódios vividos e ritmados, o enredo em «As Recordações» é melancólico, pesaroso e introspectivo. Acredito que é um livro para se ler ao ritmo dos pensamentos e recordações a que o que é dito nos arranca do coração e das memórias.
"-Pensei que querias ir ao cabeleireiro?
- ... E fui...
- Não é lá muito óbvio.
- Não tens olho. É esse o teu problema.
- ...
Preferi abreviar. Queria evitar saber a opinião da minha avó acerca da minha tendência para passar ao lado das metamorfoses da feminilidade. Isso não me impediu de praguejar para dentro enquanto conduzia. Cansam-me as que nos perguntam se reparámos nesta ou naquela alteração física. São as tiranas da sua aparência, e nós os escravos da constatação."
«As Recordações» são ainda um excelente guia para citações, autores, livros, músicas, filmes, artistas... deixo-vos com o Prémio Nobel da Literatura de 1968, Yasunari Kawabata:
"A morte dá-nos a obrigação de amar." No entanto, eu arrisco a afirmar que tal amor rápido e possessivo talvez tenha sido demais no final, eu optaria pela melancolia e o luto, já que ambos podem ser uma forma de inconformismo, neste caso, perante a morte.
E, "(...) «Iria para um lugar onde tivesse sido feliz.» Sim, foi isso que ele disse e, depois, acrescentou: «Iria para um lugar onde tivesse sido feliz.» ... as recordações.
Recordação da Leitura de As Recordações de David Foenkinos
Ficou a faltar-me passar para a tela, a imagem da vaca odiosa, ou pincelada odiosamente por Van Koon... não encontro na web vaca nenhuma que satisfaça os detalhes recambulescos dados pelo autor.
Por isso, deixo-vos estas, que de odioso só têm o facto de não andarem lá por casa (as telas, salvo seja).
Uma leitura com o apoio da EDITORIAL PRESENÇA, mais sobre o livro aqui.
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BOAS LEITURAS
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