segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Opinião "A Vida Amorosa de Nathaniel P."


Outro dia contemplava a mega estante da metade negra quando ela começou a tirar livros da prateleira, a perguntar se já tinha lido este ou aquele livro. É de dizer que voltei com 4 ou 5 nos braços e este "A vida amorosa de Nathaniel P." foi um deles.
Livro do ano de não sei quantas publicações de renome e uma leitura que se revelou como uma tumultuosa e irritante viagem à mente masculina.

Honestamente desejei desistir uma mão cheia de vezes nas primeiras 40 páginas. 
Da última vez que pensei "não dá, não tenho paciência para vaguear na mente de um gajo intelectualóide e todo cheio de si" foi quando embalei e levei a leitura até ao fim.

Nate sempre quis escrever. Filho de uma família emigrante com sua dose de pretensão, Nate frequentou Harvard e algum tempo depois mudou-se para Nova Iorque. Sem um livro debaixo do braço e nem um contrato editorial na calha, Nate comeu nos primeiros tempos graças a pequenos trabalhos, opiniões e outra coisas pontuais para revistas mais ou menos conhecidas. No entanto, quando o conhecemos, o seu nome já se tornou sonante no meio editorial, tem um livro a sair dentro de alguns meses, é invejado por colegas e cobiçado pelas mulheres. 
Como uma personagem que imaginamos a caminhar pelas ruas de Brooklyn enquanto fala para o espectador, em close up para a câmara, Nate vai divagando sobre a sua pessoa, o seu trabalho, mas acima de tudo, sobre as mulheres da sua vida.

E se num momento conseguimos compreende-lo e ser complacentes com ele, no seguinte ele irrita-nos com a sua falta de tacto e incapacidade para ser honesto especialmente em relação ao seu mais recente emparelhamento. 

Por vezes aquilo que dizemos que queremos e aquilo que realmente gostamos de ter são coisas diferentes.
Nós sabemos, as relações não são fáceis. Ou será que deviam ser fáceis e se não o são, é porque não valem a pena?
"Por que raio é que as mulheres, por mais inteligentes, por mais independentes que fossem, revertiam inevitavelmente para este estamos de imbecilidade voluntária?"
Este Nate é um detector de defeitos e detalhes nefastos que minam a imagem da mulher à sua frente. Quando as coisas típicas de um namoro acontecem Ad infinitum (como ele salienta) e a rotina se instala no casal, é quando percebemos o momento em que Nate começa a sabotar as suas relações.

"Por norma os homens querem um motivo para terminar uma relação, enquanto as mulheres querem um motivo para a manter...é por isso que, depois, os homens olham para tudo o que estava mal na relação, para confirmar que fizeram bem em termina-la. As mulheres, por outro lado, voltam atrás e procuram aquilo que podia ter sido diferente, aquilo que podia ter feito com que as coisas funcionassem."
Este "A Vida Amorosa de Nathaniel P." parece ter sido escrito como se um agente infiltrado no cérebro masculino tivesse captado a essência dos pensamentos, desejos e receios dos homens para depois os vender ao sexo oposto. Adelle Waldman cria uma voz para Nate que, arrisco-me a mandar esta afirmação para a frente por falta de cultura e conhecimentos literários, se torna refrescante ao escancarar uma janela mal lavada e com pouca visibilidade para a mente masculina.

E agora, o que pensa a minha metade literária da minha opinião ao livro que ela me sugeriu?

1 comentário :

EfeitoCris disse...

Ora ora.
Já nem me lembrava de ter gostado tanto desse livro como a minha review espelha. É por isso que gosto de aqui ter coisas escritas. Para que a mente não me atraiçoe.
Lembro-me bem de tanto detestar Nate como de me rir com ele e as suas aguçadas avaliações ás mulheres.
Esse parágrafo que salientaste é muito bom e revela a inteligência com que está escrito.
Ler esse livro é ler em versão resumida muito do que está à nossa volta.

Mas tb confesso que ao início me custou a entrar na fanfarronice do rapazinho.