domingo, 5 de abril de 2020

"O Meu Mapa de Ti"

Diz a letra de uma música que "A House is a not Home" porque quem faz um lar são as pessoas que o compõem, aqueles que nos preenchem os dias, aqueles que nos amam e por quem vivemos. Sim, nós também somos parte integrante do nosso próprio lar mas infelizmente há momentos na nossa vida em que essa noção sofre alterações, se perde ou se desvanece até não restar nada que faça sentido.

Para Holly Wright o seu lar era apenas uma casa alugada em Londres, onde vivia desde o momento em que se viu sozinha no mundo. Ao contrário da sinopse apresentada na contracapa do livro editado em Portugal pela Editorial Planeta, eu acho que a da versão em inglês me cativou muito mais para a leitura.


"Holly Wright teve alguns anos difíceis. Após a morte da mãe, Holly tornou-se numa especialista em manter as pessoas à distância - incluindo o seu namorado, Rupert. Mas quando Holly recebe uma carta inesperada que a informa que uma tia, que ela nunca conheceu, lhe deixou uma casa na ilha grega de Zakynthos, os muros que ela construiu começaram a desmoronar. Ao chegar à ilha, Holly conhece Aidan e lentamente começa a descobrir a verdade sobre o segredo que destruiu sua família. Será a ilha o lugar onde Holly realmente pertence? Ou será que a vida real lhe vai passar a perna?"
(tradução feita pela Elsa) :P

Sem revelar mais "spoilers" sobre a história acho que é preciso aquela informação relevante sobre o passado de Holly para compreender a sua vida em Londres, a sua relação com o Rupert e a reacção ao facto de ter herdado uma casa numa ilha grega com ar de paraíso (sim, vão googlar Zakhintos)
O primeiro pensamento de qualquer pessoa seria "OH MEU DEUS, OBRIGADA!" mesmo que no cantinho da vossa mente estivesse um "quem raio é esta tia e porque me deixa uma casa se nunca me viu".

Para Holly foi mais uma pedra a cair na superfície aparentemente estável do lago que se tornou a sua vida, pronta para criar ondas desnecessárias e trazer ao de cima o que quer que estivesse escondido no fundo.
A sua incapacidade de ser verdadeira consigo mesma e com o seu passado, acompanham-na naquela que poderia ser só uma viagem de férias à Grécia mas que se torna num enorme deja-vu e o principio de algo mais.
Podia dizer que "O meu mapa de ti" é um romance leve, daqueles que gostamos de ler estendidas ao sol num dia de verão mas a viagem de auto-descoberta de Holly, a exploração geografia e temporal dos segredos da família e o impacto que o passado e presente têm na personagem principal, são bem capazes de mexer convosco, assim como mexeram comigo. Acho que tenho andado demasiado afastada dos livros e das vidas dos personagens :P
  
Faz imenso tempo que não me sento para escrever uma opinião a um livro. Mais do que meses, talvez já tenha passado um ano.
As justificações são tantas que não saberia por onde começar e encontro na história de Holly uma semelhança. Existem paixões, passatempos ou talentos que temos que são um tremendo conforto e algo que gostamos imenso de fazer mas sem saber bem porquê, deixamo-los esquecidos numa mala debaixo da cama ou numa prateleira a ganhar pó.
E assim como Holly, também eu tenho de voltar a meter as mãos ao trabalho, não a escrever emails profissionais mas para deixar os meus dedos teclarem furiosamente enquanto o meu cérebro lhes envia sinais, por vezes a um ritmo avassalador, sem parar para pensar, em visão em túnel para não me distrair e assim deixar que tudo o que me vêm à cabeça passe efectivamente "para o papel".

"O meu mapa de ti" veio tirar-me do marasmo de leitura e embora ainda não esteja ao nível de entusiasmo, interesse e velocidade habituais, já me sinto muito mais a leitora que sempre consumiu linhas escritas em livros e despejou outras tantas em opiniões escritas quase imediatamente após fechar o livro e sorrir para a contracapa.

Os livros foram e serão sempre um bálsamo. E se este me fez parar e olhar para o tempo de chuva lá fora enquanto lia sobre o céu azul de Zakhintos e as suas maravilhosas vistas, é a sensação de liberdade de agarrar na mochila e meter-me no próximo voo para as ilhas gregas que mais me doí cá dentro nestes momentos incertos e enclausurados que vivemos neste momento. 
Que a realidade de acordar com vontade de viajar e não descansar enquanto não marco um bilhete de avião esteja a pouco tempo de distância, que a normalidade que tanto demos por garantida nos possa ser restituída em breve e que este tempo de isolamento, controlo e incerteza nos torne mais agradecidos, solidários e a conscientes.

E até lá, deixo-vos embalados com a Ella 


"O meu mapa até ti" é uma aposta


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