quinta-feira, 23 de março de 2023

«Não é só sangue» e «Dores menstruais não são normais» de Patrícia Lemos e Catarina Maia :: Opinião

 



"(...) este é o único sangue que derramamos que não decorre de doença nem de violência; um sangue capaz de criar vida, mas, ainda assim, e talvez porque torne o corpo demasiado real, é um assunto a evitar." 

«As palavras que usamos contam uma história. O esforço que fazemos para as evitar também.» Alma Gottlieb*

Sobre o sangue que derramamos e o que daí advém, a história que conta de cada mulher, é uma história com causas e sintomas semelhantes, no entanto, cada mulher é única e precisa escutar o seu corpo. Ouvir a sua história, naquilo que cruza mas também naquilo que não é igual às outras, mas para isso é precisa literacia de corpo e essa é a história silenciada. Patrícia Melo e Catarina Maio cumprem com estes livros, a difícil mas tão importante missão de quebrar o tapu*

Quebrar tabus e consciencializar todos, sim todos, porque ambos estes livros não são só para mulheres, são para todos, para que todos possam conversar abertamente, por forma a garantir uma maior compreensão e empatia e perceber que "a menstruação é apenas um subproduto de algo maior - o ciclo menstrual, o essencial que é invisível aos olhos..." e sim, a analogia é irónica.

Irónico é também que metade da Humanidade viva a esconder algo totalmente essencial para existência de todos, por isso o que é essencial, é uma reflexão colectiva que gere um maior entendimento, cooperação e aceitação, tanto da experiência individual como da compreensão da alheia, especialmente quando chegamos ao capítulo das dores menstruais, ridiculamente normalizadas e consideradas inerentes ao ser mulher e ao estar naquela fase do mês, retirando-lhes importância. Basta perceber que apenas em 2020, Portugal adoptou medidas para o diagnóstico e o tratamento precoce da endometriose (resolução nº74/2020) Leia-se também o artigo satírico «If Men Could Menstruate» Gloria Steinem (1978) que diz muito sobre como a sociedade em geral ainda olha (e sim ainda olha, pois o artigo é completamente actual mesmo tendo mais de 40 anos!) à menstruação e ao longo caminho que ainda existe por palmilhar. 

Porém, livros como estes mapeiam melhor esse caminho! 

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