Mason Cross tem publicada em Portugal a trilogia dedicada a Carter Blake, um operacional que satisfaz os pedidos do FBI quando é preciso encontrar quem não quer ser encontrado. A história que acompanha o percurso deste asset não é desconhecida das séries do grande público ou dos enredos típicos dos page turners habitualmente viciantes e frenéticos. E embora se perceba que mais tarde ou mais cedo, Blake saberá demais e tornar-se-á ele mesmo um alvo, a história não desilude, antes pelo contrário, é a perspectiva e os conhecimentos do próprio Blake que aceleram o ritmo da acção.
Em «O Samaritano» a acção centra-se num homem que supostamente ajuda mulheres cujos carros avariam à beira da estrada. Mas será que avariam mesmo? Será ele uma ajuda?
Claro que não! No entanto, não é nada a que os detetives Allen e Mazzucco não estejam habituados: as mulheres são os alvos principais de determinado tipo de crime e o nível de violência tem escalado nos últimos, mas os corpos que agora são encontrados têm uma mutilação caraterística, um corte que é uma assinatura.
No rasto dessa assinatura surge Blake, que desconfia de um outro profissional que ele conheceu bem.
“- É um local ótimo para se largar corpos e não se trata do trabalho de um novato. Até um recruta o perceberia imediatamente, (…).
Era verdade. Tudo o que haviam visto até ali apontava para que o corpo fosse a última vítima de uma série, e não um crime isolado. As feridas da tortura mostravam paciência, deliberação, confiança. Comedimento, até, se isso não fosse uma contradição. Tivera o cuidado de manter a jovem viva durante algum tempo. O golpe mortal fora desferido com determinação absoluta, à primeira tentativa. Várias pessoas tinham comentado o profissionalismo da sepultura. A sorte fora a única razão para o corpo ser descoberto. Tudo somado, apontava para a obra de um assassino experimentado. Mas não era a verdade completa. A verdade completa necessitava de mais reflexão antes que ela a revelasse a alguém, incluindo o homem em quem mais confiava no departamento. Sabia apenas que haveria mais corpos.”
Skills, calculismo, paciência e anos de treino, confiança e premeditação, anonimato, liberdade e impulsos homicidas tudo combinado com sorte, muita sorte a favor de um assassino que opera como um fantasma, até que um aluimento de terras o deserdou da sorte que lhe tem permitido correr o país a matar e a ocultar corpos. Crozier tem a preparação certa para continuar a sua obra: “Sem um corpo é impossível decidir conclusivamente que um desaparecimento é o resultado de um crime”, mas o facto de Blake conhecer o seu traço (o serrilhado da sua faca de mato) vem atalhar os planos de Crozier e bem sabemos que quando a pressão aumenta, os erros surgem.
E quando o caos se instala, todos são suspeitos e Blake não passa de consultor que oferece os seus serviços a troco de nada. E todos sabem que não há almoços de borla. Especialmente os detetives.