sexta-feira, 12 de outubro de 2018

«COMBOIO PARA O PAQUISTÃO» de Khushwant Singh - Opinião


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Khushwant Singh (1915-2014) foi advogado, diplomata, jornalista, político e um dos grandes escritores indianos ou não fosse amplamente conhecido por expor a partição da Índia em 1947, com a separação do Paquistão e a saída dos ingleses. A polémica em torno das suas opiniões valeram-lhe ser banido e ter a cabeça a prémio, no entanto, nunca abandonou o seu país nem a cultura Sikh. 

A partição de 1947 ainda hoje tem repercussões bem com as diferenças entre sikhs e hindus e claro, muçulmanos, uma maioria essencialmente em território paquistanês. Tais diferenças enraizadas contribuem para maiores divisões e discriminação entre indianos em geral. O romance expõe ainda as fissuras deixadas pelas linhas fronteiriças traçadas conforme os interesses ingleses, causadores de fricções e desconfianças entre um povo separado por clivagens sociais e tradições religiosas. A proximidade geográfico não apazigua diferenças incrementadas ao longo de séculos, e isso o livro também denuncia. 

"«A liberdade tem de ser uma coisa boa. Mas nós, o que é que vamos ganhar com isso? As pessoas instruídas (...) hão-de ficar com os empregos que os ingleses tinham. Mas nós, vamos ganhar mais terra ou mais búfalos?»
«Não», continuou o muçulmano. «A liberdade é para os instruídos que lutaram por ela. Nós fomos escravos dos ingleses, agora vamos ser escravos dos indianos instruídos - ou dos paquistaneses.»"

«Comboio para o Paquistão» expõe também a questão da violência e da matança que existiu fruto de todas essas discórdias, e na aldeia de Mano Majra onde a população, apesar das diferenças, vivia em consonância, vê essa linha de paz, ténue e frágil, facilmente ameaçada quando ordas de migrantes oscilam entre comboios apinhados de gente: muçulmanos que fogem em direcção ao Paquistão e sikhs e hindus que fogem em direcção à restante Índia.
A aldeia, situada junto à ferrovia, passa a ser testemunha da violência extrema que pautou este episódio da História da Índia.

“Desde a partição do país, esta discussão tinha um interesse adicional (...) Agora, os comboios (...) Quando vinham, estavam apinhados de refugiados sikhs e hindus vindos do Paquistão, ou muçulmanos vindos da Índia. As pessoas vinham empoleiradas nos tejadilhos com as pernas balançando na borda, ou em armações de cama apertadas entre os vagões. Algumas vinham precariamente cavalgando os amortecedores entre as carruagens. (...) 
Ele teria descrito a viagem como insuportável, mas os limites a que a resistência humana consegue estender-se na Índia fazem com que esta palavra perca todo o significado."

Khushwant Singh foi sempre indecoroso e dilacerante para os costumes da sociedade indiana, chocando-a, mas isso não o impediu de escrever ao longo de toda a sua vida. 

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Uma edição Cavalo de Ferro 




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