quarta-feira, 24 de junho de 2015

«SAMARCANDA» de Amin Maalouf - Opinião

Nada melhor que um bom livro para entendermos algumas questões sobre o mundo árabe.

Sanarcanda leva-nos a uma viagem a terra das mil e uma noites, leva-nos a embarcar na rota da seda, e a entranharmo-nos no coração da civilização persa, uma civilização que devido ao fanatismo religioso entra em declínio.

Neste livro podemos encontrar histórias de como tornar um adulto em filho, e irmão das nossas filhas, fazendo que ele as respeite e possa conviver com elas como irmão.

"os seus ombros estavam nus, bem como os seus seios. Pela palavra e pelo gesto, convidou-me a mamar. As duas raparigas riam à socapa, mas a mãe exprimia a serenidade dos sacrifícios rituais. Pousando os meus lábios, o mais pudicamente possível , num bico de seio, e, em  seguida, no outro, obedeci-lhe. Ela cobriu-se então, sem pressas, dizendo no mais solene dos tons:
- Com este gesto, tornaste-te meu filho, como se tivesses nascido da minha carne."

Aprender "novas" medidas, as medidas de um povo e perceber os seus costumes

"- Temos de esquecer -dizia-me- os litros, os quilos, as onças e as pintas. Aqui fala-se de djaw, de miskal, de syr e de kharvar, que é a carga de um burro.
Ele tentava instruir-me:
- A unidade de base é o djaw, que é um grão de cevada de grossura média que conserva a sua película...."

Podemos ver que agora ou antigamente, na Europa, na Ásia ou em qualquer outro lado do mundo, todos nós pensamos em férias e ócio, sejamos cristãos, muçulmanos ou ateus.

"aos primeiros calores, Zarganda animava-se. Os estranjeiros e os persas mais ricos possuíam ali sumptuosas residencias, aí se instalando para longos meses de perguiça..."

Podemos aprender ditados, histórias e lendas deste canto do mundo:

"Não conheces a história do burro  falante de Mulá Masruddine?
.....
no espaço de um ano o rei pode morrer. o burro pode morrer, ou então posso eu morrer»"


Com este livro podemos viver em duas épocas totalmente distintas, no século XX onde podemos assistir ao declínio da Pérsia, usada e abusada pelos países considerados evoluídos, e um povo em luta tanto a nível religioso como ideológico, e ainda ver uma civilização entre os séculos XI e XII onde o poeta Omar vive, um poeta "iluminado", um génio da literatura, além de matemático e filosofo tem de viver, ora amado por Xás e pelo povo, ora considerado maldito por outros.

Um génio da poesia que compila durante a sua vida os seus poemas no livro «Robaiyat», o livro que desencadeia toda o romance em Samarcanda.

Adorei esta leitura e agora estou a pensar em arranjar o «Robaiyat» só para poder ter um gosto das poesias de Omar.

Uma leitura com o apoio:

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