«Remédios Literários, Livros para salvar a sua vida - de A a Z»
de
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Paciente: respondo pelo nome de Metade Negra, tenho 35 anos e várias patologias.
Sintomas:
- Diagnostico em mim crises diversas e variadas; teimosia agravada e solidão cristalizada;
- entre outras coisitas físicas mais simples, como dificuldade em fechar a boca ou síndrome de cão da pradaria...
Após uma leitura atenta, divertida e considerando conselhos e avisos das autoras, estou prepara para emitir a Guia de Tratamento e a posologia adequada perante as diversas crises diagnosticadas.
A forma como o diagnóstico se vai construindo a ele próprio, é brilhante, ou seja, este livro é a prova de que um mal nunca vem só e à medida que procuramos por uma maleita encontramos logo outra associada que facilmente reconhecemos como mais uma na nossa lista.
Por isso aqui fica o enumerado de maleitas e respectiva prescrição.
-
Prisão de Ventre e Flatulência - para soltar notícias das suas entranhas, as autores prometem que «
Shantaram» de Gregory David Roberts fará milagres, tais são as descrições. Aliás, a barrigada de riso que é a entrada neste livro sobre esse outro livro, é divinal e só por si já melhora os movimentos intestinais. No caso concreto da flatulência, estou muito satisfeita com a medicação, aliás, já a testei (
opinião), é o livro «
Uma conspiração de estúpidos», um livro fabuloso de John Kennedy Toole.
Associado a estas quezílias do corpo com ele mesmo, o livro diagnostica também irritabilidade (confirmo!), gula (culpada!), rabugide e letargia... tudo sintomas várias vezes experimentados, logo para tratar a
irritabilidade a proposta é: «
O navio-farol de Blackwater» de Colm Tóibín; para superar a
rabugide, que as autoras avisam ser contagiosa e eu não quero contagiar ninguém, que não quero ninguém igual a mim, a sugestão é: «
A Ilha do Doutor Moreau» de H. G. Wells - que pela descrição deste livro de remédios me parece ir encaixar que nem uma luva.
Para acabar com a
Gula, essa inimiga eterna, as autores sugerem «
A divida ao prazer» de John Lanchester que tem uma sinopse bem suculenta. E ainda para o combate à letargia, um livro que promete alimentar o
bichinho carapinteiro, que eu ás vezes também preciso controlar, por isso ficam ambas as sugestões: «
O céu que nos protege» de Paul Bowles e "Ulisses" de Homero.
Associado ao desejo de andar de um lado pro outro, há duas patologias distintas, uma é o
desejo de abandonar o barco e outra é o de viajar, para o qual, Ellen e Susan, alertam para o seguinte: não vá você tornar-se numa dessa pedras que não criam musgo. A ideia é maravilhosa, mas como por enquanto não me importa de ser um seixo rolante, iria bem até ao Japão e para tal viagem é recomendado tomar uma dose de Yasunari Kawabata com o seu «
Terra de Neve».
Daqui, fico ainda com a referência à série de John Updike com início em «
Corre Coelho», na qual estive para pegar neste final de Verão, mas faltava precisamente este primeiro livro. Agora já tenho mais um motivo.
Para as noites de
insónia, que não é bem assim que elas o referem, fica o curioso título, «
A Casa do Sono» de Jonatham Coe, que eu tenho na estante há tanto tempo. A ver se lhe pego.
Tal como a insónia quem é que, de vez em quando, não se sente insatisfeito ou com saudades de algo!?
Para combater a
Insatisfação:
«Bairro de lata» de Steinbeck e para as
Saudades um livro ternurento, misterioso e suave, «
Seda» de Alessandro Baricco: um livro muito bom e que já li. (
opinião)
Típico de gaja são as dores associadas àquela
altura chata e tenebrosa do mês, para esses dias algumas das recomendações eu já li, por isso escolho, pelo título «
A Tenda Vermelha» de Anita Diamant, livro o qual não deverá ser fácil de encontrar, por isso, outra sugestão é o «
Até ao fim do mundo» de Maria Sample, que eu, gentilmente, sugerir à rede de bibliotecas e eles adquiriram.
Nessa altura do mês outra coisa que me afecta são as
dores, umas mais gerais que outras e logo aqui eu já tomei deste remédio:
«Acasalamento» de Norman Rush e é um remédio muito bom (
opinião).
Para quem como eu, pode, sabe-se lá,
não arriscar o suficiente, o remédio é português e é do meu ano, 1982... tantas coincidências. A prescrição é «
Balada da praia dos cães» de José Cardoso Pires.
O mais patológico talvez sejam dois:
-
em busca da felicidade - o remédio é ler «
Fahrenheit 451» de Ray Bradbury (lido agora em 2018,
opinião)
- não ter filhos (e continuar a não tê-los) as autoras recomendam: "She" de H. Rider Haggard que pela sinopse não me convence e pergunto-me se depois de "Temos de falar sobre Kevin" é preciso mais discussões!?
Para terminar a lista de medicamentos, faltam três:
- para tratar a patologia de
DIY, "faça você mesmo", um livro e um pedido de atenção para não martelar dedos -
«A ilha de Caribau» de David Vann
-
para se iniciar à ficção científica - como se não lê-la fosse um mal maior, mas ok, pelas sugestões apresentadas eu até considerei: «
1984» e «
Nunca me deixes» no novo Nobel da Literatura
E a cereja no topo do bolo, um dos meus livros de sempre e recomendados para quem tem mais de 100, exacto, cem anos ;) o «DRACULA» pois claro. Não sei o que dirá de mim ter como favorito um dos livros recomendados para
pessoas com mais de 100 anos. E atenção, na lista existem outros, como o hilariante e já lido (
opinião), «O centenário que fugiu pela janela e desapareceu". Li o livro e vi o filme, dose dupla, sou um fóssil!!!
Se estes remédios não forem suficientes há uma lista de livros só porque a malta já passou dos 30, mas ainda não entrou nos 40, aqui ficam:
- «A inquilina de Wildfell Hall» de Anne Brontë
- «Middlesex» de Jeffrey Eugenides
- «O sol nasce sempre (hiesta)» de Ernest Hemingway
- «Anna Karénina» de Lev Tolstoi
- «Servidão Humana» de W. Somerset Maugham
- «2666» de Roberto Bolaño
- «A sorte de Jim» de Kingsley Amis
- «Orgulho e Preconceito» de Jane Austen
- «Mau tempo no canal» de Vitorino Nemésio (Já tentei e desisti, se calhar foi antes dos 30)
Ah, já me esquecia. Hoje o meu sobrinho disse-me, como já me disse muitas vezes: "Tia, és estranha."
Não quero deixar de ser estranha, mas aceito o remédio para a estranheza: «
Oscar e Lucinda» de Peter Carey
Peguem neste livro e passem umas horas bem divertida a fazer a vossa prescrição