No seu «Silêncio na Era do Ruído», Erling Kagge predispõe-se a pensar sobre o que significa o silêncio, onde e como o encontramos e como o sentimos. O silêncio tem muito de indizível e de abstracto, no entanto, há uma busca incessante pela sua definição. Aproximar-se-á da definição do «nada»? Ou define-se pela experiência de cada um?
Experimentando-o cada um à sua maneira, sem garantia de conseguir-se expressar sobre ele de forma concreta ou palpável, que o digam os inúmeros artistas que tentaram filosofar, sentir, pintar, encenar, musicar, escrever ou expor o silêncio. Também sobre eles, Kagge, de forma breve e rendilhada, os cita para fundamentar as suas ideias sobre o silêncio, que tanto procurou, fosse em caminhadas solitárias de 50 dias pela Antártica, fosse na rede complexa de esgotos e túneis, chafurdando noutra dimensão de Nova Iorque.
“Conhecendo-nos a nós mesmos, conhecemos os outros. Ao ler Sacks, sinto que ele, tal como Nansen, ao dirigirem os seus olhos para o alto, também os dirigiam para dentro, em direcção ao seu silêncio interior e também aos seus aspectos interiores esquecidos. Em direcção a esse universo que para mim é tão misterioso como o espaço que nos rodeia. Um universo expande-se para fora, o outro para dentro. Para mim, este último universo tem o maior interesse. Porque justamente como concluiu a poetisa Emily Dickinson; «O cérebro – é mais vasto do que o céu.»”
Silêncio está associado a resiliência, relutância, satisfação, como essa mesma satisfação está intrinsecamente associada a sacrifício e meta. Porém, o caminho e as suas etapas são mais proveitosas que só a meta em si, é nessa perseverança que algo transformador acontece e desperta no cérebro sensações de bem estar e paz interior. Se assim for, silêncio é satisfação por auto-conquista? Que som tem o silêncio? A do auto-reconhecimento e da compreensão?
É tão vasta a definição como a forma de atingi-la, porém é na simplicidade do silêncio que ocorrem conversas entre os nossos pensamentos, capazes de vencer medos, de fazer avançar ou recuar, superar o aborrecimento mais por saber parar e contemplar e não por alimentar a ânsia, tão socialmente aceite, de continuar a fazer mais e mais. Mais intenso.
“(…) Rumi escreveu: «Agora permanecerei em silêncio, e deixarei o silêncio separar o que é verdadeiro daquilo que mente»”
Talvez se possa dizer que a melhor definição de silêncio e aquela que o indica como uma sensação de paz interior, um luxo e uma liberdade, que tanta falta fazem nesta Era do ruído agudizada pelas aplicações que viciam e que dão estímulos exteriores que nunca são suficientes e atuam segundo a máxima: partilho logo existo; embora essa partilha seja feita sem que cada um abandone o seu isolamento, por vezes tóxico e caótico.
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