quinta-feira, 26 de agosto de 2021

"A segunda vida de Olive Kitteridge" de Elizabeth Strout :: Opinião


"(...) nem queria acreditar. A sério que não. Era um pouco como quando caíra de bicicleta, anos e anos antes (...) a sensação em câmara lenta de que algo terrível está a acontecer e a noção de que nada podia fazer para o impedir. Ver o alcatrão vir de encontro à face."

Strout traz nos uma Olive ainda mais olivesca 😉 que nos leva a pensar no quanto todos temos uma Olive dentro de nós e como nos ligamos a essa faceta. Ou se nem sequer temos ideia de tal, o que deixa uma pergunta: estaremos a guardar para a velhice? É que cair de bicicleta na velhice pode nunca mais dar para recuperar!

Regressamos a Crosby, no Maine para percorrer algumas ruas e corredores de supermercado ou os lares que nos esperam na velhice para ouvir algumas lamúrias, mas mais ainda conclusões que vêm com o entendimento tácito dos anos. Do amadurecimento e da velhice. Por isso, revive-se o casamento, o nascimento e a criação dos filhos, o avanço rápido da vida que tudo atropela e entra-se na velhice quando já ela já se instalou: "Olive tinha a sensação de que uma rede descera sobre ela, o tipo de coisa que se põe a cobrir um bolo ou uma mesa de piquenique, para afastar as moscas. Ou seja, estava encurralada e a sua visão do mundo reduzira-se."

No entanto, Olive em nada está reduzida. Nos capítulos onde Olive não está, Olive esta sempre lá, pois habilmente Strout ausculta (palavra feia) nos feitios e problemas dos outros, caminhos que nos levam às conclusões que a idade tem trazido a Olive, ou seja, aquelas personagens parecem surgir do nada, mas trazem consigo todo um propósito, seja validar ou contrariar o que aprendemos com Olive. E isso é estrategicamente bem equacionado no seguimento da narrativa. A sequência que cada conto ou capítulo tem, não pode, de todo, ser ao acaso. Há um fio que tudo cose, mesmo que padeça de um certo caos. Tal como a vida. Ou as aprendizagens que a vida nos dá, mesmo que às vezes seja à bruta.

"Mas mesmo por detrás dos olhos fechados, Olive via a casa e um arrepio percorreu-lhe os ossos. A casa onde criara o filho, sem nunca, nunca se aperceber de que ela própria criara, durante todo esse tempo, uma criança órfã de mãe, que agora estava muito, muito longe de casa."

Olive revive mágoas antigas quando as redescobre nas aprendizagens que faz cada vez mais com o passar dos anos, por isso, o leitor reencontra Christopher, Henry e Jack que vai alterar um pouco o curso da vida de Olive, ainda assim reencontrar Olive Kitteridge é encarar uma solidão tão característica da sua personalidade que talvez toque, ali e ali, a solidão que todos sentimos. Nesse tomar de consciência e com as várias gargalhadas que vamos dando, podemos dizer que respeito será a palavra que mais aprendemos à medida que somos confrontados com certos episódios. Respeito e a máxima: mais amor por favor!

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