segunda-feira, 2 de agosto de 2021

«A minha irmã é uma serial killer» de Oyinkan Braithwaite - Opinião



"A Ayoola convoca-me com estas palavras: «Korede, matei-o.»
E eu que tivera esperança de nunca mais ouvir estas palavras..."

O livro sensação «A minha irmã é uma serial killer» (Quetzal, 2021) de Oyinkan Braithwaite é um livro por camadas ou até mesmo um livro puzzle que se monta por irmos interpretando essas camadas. A irmandade entre Korede e Ayoola vai-se intensificando à medida que a narradora (Korede) desmistifica, por pequenas brechas, acontecimentos do passado e por aí se compreende as margens para onde ambas as irmãs desabrocham. Opostas, mas completando-se (como quase sempre, diria eu!) e são fruto do tratamento dado pelos pais e a forma como a família as caracteriza pela aparência e respectivos actos, desde muito cedo e por aí as condiciona ou enaltece. Sem esquecer que as tradições e a forte presença paternal determina em muito a união que as mobiliza e lhes justifica os actos.

"Pergunto-me onde é que ela guardará a faca. Nunca a vi, a não ser naqueles instantes em que estou a olhar para o corpo ensanguentado (...) Não sei porquê, mas não consigo imaginar a Ayoola a esfaquear uma pessoa (...). Quem sabe se os objectos não têm as sua próprias intenções secretas? Ou se as intenções colectivas dos seus donos anteriores não continuam a orientar-lhes o propósito?"

A orientar-lhes o propósito, a ambas, está o passado e é talvez isso que alimenta a leitura sôfrega, se bem que a autora consegue-o também pela escrita escorreita e sucinta, agarrando o leitor ao ritmo quase aflitivo com que as irmãs vivem cada episódio. Para além disso, a dinâmica de ambas as personalidades também se desenvolve à velocidade de um thriller. 

Korede é determinação, Ayoola é descontração. Uma é reconhecida pela sua beleza, a outra pela inteligência e careira. Uma cozinha, a outra come, uma apaixona-se superficialmente, usufrui e pavoneia-se, até se chatear e matar, a outra vem desinfecta, esconde e oculta cadáveres. Juntas são um binómio interessante para matar sem deixar rasto. Ou não, pois uma tem consciência e a outra não.

Dizer mais pode enviesar leituras, mas não me aguento em acrescentar que por aqui restaram alguns mixed feellings com a forma como termina, mas quem ler e quiser trocar umas ideias, são todas bem vindas.

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