ONDE METI EU O PAPELITO COM O TEXTO SOBRE ESTE LIVRO?
Podia ser a introdução a esta opinião ou antes a história dos meus últimos tempos com esta mania que se instalou, a de rabiscar opiniões em pedaços soltos de papel e depois perder-lhes o rumo. Um saga sem fim à vista!
Desabafos à parte, «Desenhos Ocultos» - que eu teimo em apelidar de Obscuros - foi um leitura por impulso. Abri o livro e gostei dos desenhos, tanto os mais infantis como os mais cuidados e fiquei curiosa como evoluiria a história para partirmos de uns e chegarmos a outros.
Jason Rekulak conduz-nos até um casal para desde cedo percebermos que algo vai mal e ficarmos de olho naquela relação. A voz de Caroline é paciente e conciliadora; as respostas de Ted são curtas e duras, preciso e com as palavras bem marcadas. «É como ouvir um violino a dialogar com um martelo-pneumático». Ainda assim, enquanto dialogarem, a vida vai fluindo e são capazes de decidir a contratação de Mallory Queen.
Mallory tem apenas vinte e um anos, mas a sua história já traz um disclaimer:
"AVISO: É fácil resvalar, mas não se cai sozinho!"
E se juntarmos a história de Mallory com a que se vai desenrolando sobre Annie Barrett está montado o enredo obscuro possível de se cruzar com ensinamentos dos melhores livros, tal como Adrian lhe dá a perceber quando recorda as palavras de Spock, parafraseando Shelock Holmes:
"Quando eliminamos o impossível, o que resta, por muito improvável que seja, deve ser verdade."
Mesmo com os sábios conselhos dos livros, a cabeça de Mallory tem o hábito de criar impossíveis, de fazer cenários e driblar entre histórias sem sentido, nem que seja para esquecer que está à distância de uma pedrada em Filadélfia, portanto ela tem de compreender o que de oculto se esconde nos desenhos obscuros que substituíram os rabiscos e as figuras-palito inocentes e típicas das crianças da idade de Teddy.
"Nunca consegui encontrar as palavras exactas para descrever a sensação - a estranha impressão - de qualquer coisa a esvoaçar na periferia dos meus sentidos, por vezes acompanhada por um zumbido agudo."
Entre estudos científicos sobre «detecção de olhares» e tábuas de espíritos, oscilamos entre tentativas da ciência explicar o que as sessões espíritas caseiras confundem, mas o mais engraçado é o humor que os diálogos com o pequeno Teddy assumem, mostrando-se tão perdido quanto o leitor.
"Eu tento inventar histórias (...) mas o príncipe Teddy só quer falar de tábuas dos espíritos. Precisam de pilhas? Conseguem encontrar qualquer coisa morta? (...) espero que ele perca o interesse, mas em vez disso pergunta se é possível fazermos uma."
O interessante do livro é a forma como o autor capta diversos universos mentais em função das idades e experiências de vida, fazendo-os conviver a todos na casinha rústica de subúrbio até colidirem e com isso dá um ritmo em crescendo à narrativa, conseguindo imagens bastante interessantes: «somos como bolas de sabão com que o Teddy gosta de brincar - mágicas, flutuantes, mais leves que o ar - condenadas a rebentar a qualquer momento», tal como o desfecho que rebenta na cara do leitor, completamente inesperado.
Sem comentários :
Enviar um comentário