Enquanto lia este livro, cruzei-me com uma frases que anotei aquando da leitura de «Os Abismos» de Pilar Quintana: "todas as minhas histórias preferidas trazem um aviso qualquer" e eu acrescentaria, todos os livros que leio, goste muito deles ou não, trazem frases que desde o momento que são lidas me ficam na cabeça.
"É surpreendente o quão puro te tornas quando pensas que o futuro não é possível, mas, quando percebes que estás vivo, os teus desejos renascem."
Eu não conhecia o fenómeno em torno da história de Sakutarô e Aki, a série mangá e o filme, e nessas adaptações está muito da essência do livro: a filosofia de vida dos adolescentes, as reflexões que fazem e as atitudes perante o confronto com a morte precoce. Haverão por certo diferente formas de olhar ao enredo, é previsível e já um tanto gasto, mas como disse, a essência está nas conversas entre os personagens, seja ente Sakutarô e o avô ou mesmo entre os jovens amantes, ainda assim foi um livro que me cativou pouco, embora tenha gostado da forma que Katayama encontrou para descrever os personagens e dar espessura aos sentimentos, sensações e relações.
Sakutarô sobre Aki:
"Acontecia apenas que, por estar embargada de tristeza, parecia mais madura que o habitual. Senti-me entristecido ao pensar que Aki tinha avançado sozinha, deixando-nos a todos para trás, mergulhados numa infância perpétua. (...)
A sua presença. tão próxima que tinha acabado por se tornar transparente, manifestava-se agora como a de uma menina que estava a fazer-se mulher. Tal como um cristal de rocha que se deixou esquecido sobre uma mesa e que, agora, ao olhá-lo de um ângulo diferente, começa a lançar umas bonitas cintilações irisadas."
Embora desconfie que para palavras de rapaz de cerca de 16 anos, revele uma certa sensibilidade e maturidade que me façam torcer o nariz, especialmente quando noutras situações, tece certos comentários sobre coisas que o avô lhe conta... Ou então, talvez seja essa a relação-chave para compreendermos o lado filosófico do livro.
"- Achas que também há uma razão para a morte das pessoas? - perguntei eu.
- Sim.
- Nesse caso, se há uma razão ou um propósito, porque é que queremos escapar à morte?
- Porque ainda não conseguimos entendê-la bem.
- Um dia conversámos sobre o paraíso, não foi?
Tu disseste que não acreditavas no outro mundo nem no paraíso, lembras-te? - perguntei-lhe.
- Sim, lembro-me.
- Se a morte tem algum sentido, não te parece que é incongruente negar a existência do outro mundo e do paraíso?
- Porquê?
- Porque quando se morre acaba tudo, não é? E se não existe um depois, é impossível que a morte tenha um sentido.
(...)
- Sabes... acho que aquilo que temos no presente inclui tudo - disse ela, por fim, escolhendo cuidadosamente as palavras. - No presente, temos tudo, não falta nada. (...)"
E os livros fazem parte do presente, se não lhes pedirmos mais do que têm para nos dar, têm sempre algo muito bom a reter: companhia por algumas horas e frases que nos fazem pensar:
"(...) não achas que se pode afirmar que a dor e a tristeza não são mais do que uma manifestação parcial dessa grande emoção que é o nosso amor por alguém? (...) possivelmente, a sensação de perda é uma parte do amor que se sente por alguém."
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