sábado, 16 de agosto de 2014

Opinião :: "A Sorte Que Move o Destino"

Num dos últimos livros que li, a personagem principal dizia algo que me aflorou os pensamentos quando li, pela primeira vez, a sinopse de "A Sorte que move o destino".
Suttter Kelly, de "O Espetacular Momento Presente" dizia algo como "o bizarro é bom. Abraça o que é bizarro. Goza o bizarro porque nunca vai desaparecer".


Esta ideia foi o que me fez entrar nesta mirabolante aventura que é a história de Bartholomew Neil. Toda a sua vida, os seus 38 anos nesta terra, foram passados a viver com a mãe e para ela mas quando a morte toca a sua estrela guia, Bartholomew perde o norte e o propósito da sua existência. Inicialmente acompanhado por uma terapeuta de luto e o padre da sua paróquia, Bartholomew vê a realidade à sua volta de uma maneira muito própria. Mas o que podemos esperar de um personagem tão peculiar que em toda a sua vida nunca trabalhou, viveu sempre focado na mãe, na religião e tem severas incapacidades sociais ao ponto de não ter amigos e nunca ter privado com uma mulher? O que podemos esperar, perguntei eu....ora devemos esperar as cenas mais mirabolantes que encontrei em livro nos últimos anos protagonizadas pelas personagens mais inteligentes e especiais que se as tentássemos resumir a estereótipos acabaríamos certamente com o inicio de anedota daquelas muito batidas que vai sendo adaptada com o tempo e as circunstâncias do público ouvinte.

Em "A Sorte Que Move o Destino" conhecemos Neil e a sua história através das cartas que, após a morte da sua mãe, começa a escrever a Richard Gere. Acredito que a escolha vos possa parecer aleatória mas faz todo o sentido à medida que a história avança com mais uma carta endereçada ao actor. A Sr. Neil era uma fervorosa fã do galã de Hollywood e activista pela libertação do Tibete e quando o cancro que a massacrou os seus últimos meses de vida lhe trazia episódios de demência, Bartholomew passava a ser Richard aos seus olhos. E assim, com este faz de conta que Barthlomew desempenhou para a mãe, começou uma ligação entre ele e o actor, estabeleceu-se uma amizade unilateral que temos oportunidade de testemunhar nas cartas que compõem o livro no qual somos brindados com os eventos imediatos à morte da Sra. Neil e que mudam por completo o dia a dia de Barthlomew: a terapia de luto, a presença constante do Padre na sua casa, as novas metas de vida que impõe a si próprio, o enamoramento por alguém tão estranho como ele, o encontro imediato com o que será o seu primeiro amigo e uma descoberta que poderá mudar para sempre o seu futuro.

Na cabeça de Bartholomew passou-se a formular a questão "O que faria o Sr. Richard Gere?" como método de resolução para os desenlaces imprevisíveis que surgem no seu dia a dia e eles são muitos, especialmente à medida que os dias avançam e vamos conhecendo mais personagens, cada um deles com a sua história, os seus demónios e dramas.
Parece-me que este é um daqueles livros capaz de afastar ou aproximar pessoas só pela leitura da sinopse. Se temos por costume dizer que "é de extremos, ou se ama ou se odeia", com este livro passa-se o mesmo.
As especificidades da personalidade de Bartholomew (e de quem lhe é próximo) podem  facilmente caracterizá-lo de "maluquinho" mas tanto a nossa personagem principal como, por exemplo, o seu melhor amigo, sofrem de doenças mentais o que torna esta história tão diferente de tantas outras que já lemos pela visão única que as suas personagens têm do mundo que os rodeia. São exactamente as observações e o modo como as personagens analisam os acontecimentos à sua volta que me deixaram presa até ao fim do livro, um que sei que muita gente não irá comprar e que talvez até se sinta injustiçada por não gostar ou se identificar com a história.
Mas há livros que são um Koan, algo para se reflectir profundamente mas para o qual não temos resposta ou resolução. "A sorte que move o destino" é assim: estranho, interessante, bizarro,  incapaz de agradar a todos mas que me arrancou sorrisos, gargalhadas e me deixou a pensar.

À medida que lia o livro dei por mim com outro pensamento, uma questão semelhante à de Bartholomew, "O que pensará o Sr. Richard Gere deste livro?". Pergunto-me se o Richard Gere, algum assistente, familiar ou amigo já leu este livro e deu consigo a pensar "raios, é mesmo assim que ele fala" ou "era exactamente isto que ele diria nesta situação". Não sei se o autor será um fã de Richard Gere à semelhança da Sra. Neil mas uma coisa é certa, acaba por ser uma homenagem a um actor que marcou uma geração pela sua gentileza, cavalheirismo e integridade, uma imagem que nos é transmitida ou reforçada nos diálogos (mesmo que fictícios) travados entre Bartholomew e Richard Gere.
Apostem no bizarro, no inconvencional, acreditem que vão gostar.

Boa leituras!

Uma novidade da

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