Paula Hawkins traz-nos «A rapariga no comboio» um thriller apaixonante pela forma como caracteriza psicologicamente todas as suas personagens. Rachel, Megan e Anna, juntamente com Scott e Tom fazem o enredo deste thriller, apesar de comparado ao êxito que foi «Em parte incerta», eu diria que ainda me faz lembrar mais do que esse filme (já que não li o livro!), para mim tem também traços de «Antes de adormeceres» e uma intensidade que expõe a crueldade da dor crónica e da depressão, próxima da interpretada por Jennifer Aniston em «Cake». É assim que vejo este livro.
A fragilidade em que Rachel se encontra, a instabilidade de Megan ou a perfeição de Anna são tudo factores que deixam o leitor de pé atrás, bem como o bem intencionado Tom ou o ríspido Scott... sempre com os diálogos e as descrições muito bem escadrinhadas levando-nos a desconfiar constantemente de todos eles. Ninguém é perfeito, todos demonstram passados menos bons e coisas que os assombram, mas serão capazes de matar? Se sim, por que motivo? Fúria? Amor? Falta de escrúpulos ou simplesmente devaneios e violência gratuita? Até certo ponto o leitor pensa num pouco de tudo.
"O meu coração agitou-se como um pássaro numa armadilha."
É uma boa frase para, desde cedo, ir preparando o leitor. Ainda assim, julgo que determinados acontecimentos são esperados, não digo por serem totalmente previsíveis, mas fruto das referências anteriores achei que os pontos se ligavam, que faziam sentido se assim o fossem. Acho que neste livro não me choca a frieza, choca-me antes o desapego, o fazer da vida alheia uma marioneta, manipulando as suas fraquezas, medos e angústias. Assusta também a imensa solidão, não de uma, mas de várias personagens.
Gostei muito do detalhe sobre o sorriso de Abdic, pensei logo no Hannibal... foi completamente involuntário e pouco depois volto a lembrar-me novamente dele, aliás de Mads Mikkelsen, que caso este livro seja adaptado ao cinema, ele ficará bem no papel de Scott. Até o facto de ter o comentário de Reese Witherspoon sobre este livro fez-me pensar nela como a loira meio maternal, com toque de esposa atrevida que Anna demonstra ser. Perante escritas tão cinematográficas sou incapaz de não pensar logo nas escolhas para o grande ecrã.
Sem dúvida que o mote dado na apresentação do livro é real, o enredo altera-nos a forma de olhar à vida dos outros. Especialmente se andarmos de comboio e olharmos da mesma perspectiva que Rachel, de vermos a vida alheia como se fosse romance, uma ficção embelezada. Por certo, durante uns tempos, os leitores no comboio não ficarão indiferentes a este thriller.
Uma leitura com o apoio TOPSELLER.
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