Depois de ler duas ou três coisas directamente da capa, nomeadamente "contos Lovecrafteanos", "David Soares" e claro Lisboa, sabia que seria para mim, tal como já anteriormente li, e gostei bastante, de outra colectânea do género da SDE - «Lisboa no ano 2000», cujo a opinião divide em três partes e podem ler aqui.
Foi uma bela compra e uma boa leitura. Pois não basta ser um livro inspirado em Howard Phillips Lovecraft, considerado o maior escritor de terror fantástico de sempre, ainda tem o bónus de tentarem recriar os seus mundos e universos paralelos na nossa bela Lisboa.
Esta colectânea está muito bem conseguida, tem uma boa escolha de escritores, alguns totalmente novos para mim, outros já com o nome vincado no meu imaginário como o David Soares, de quem sou fã e as histórias que conseguem fazer-me viajar por uma Lisboa mais negra, mais sombria, uma cidade tenebrosa criando um universo que me agrada muito a nível de leitura.
Somos brindados com criaturas fantásticas, cultos a roçarem o satanismo, pessoas com poderes sobrenaturais, bruxas, assassinos, artefactos e intrigas lovecraftianas, é com estes ingredientes que somos convidados para um passeio numa Lisboa milenar, revelando assim os seus segredos mais obscuros.
Nota: Nunca se esqueçam que todos estes elementos estão a conspirar para que a sombra que paira na nossa bela cidade possa cobrir tudo e todos na escuridão!!!
A antologia abre com «O Primogénito» que considero bastante adequada para nos encaminhar em toda a viagem. Gostei da escrita de Rogério Ribeiro, apesar de pensar que o conto podia, ou ser maior, para poder explanar mais sobre o universo do livro e explicar mais sobre personagens e o enredo da historia, ou ser mais pequeno, deixando o leitor completamente na sombra...enquadrava-se com na essência da colectânea.
O segundo conto, «O vale de Sombras» de Safaa Dib, apesar de bem escrito é demasiado confuso, e não percebi bem a importância de certas personagens que quase não contribuem em nada para a história.
Para terceiro somos brindados com, «Aquele que repousa na eternidade» de Luís Filipe Silva, um autêntico livro dentro do próprio livro, brinda-nos com verdadeiros imaginários dignos do reino dos sonhos (ou pesadelos!!!), cenas cobertas de sangue são o elemento apropriado para adensar a escuridão de todo o manto que cobre a cidade. Só por si, este conto, daria um livro independente.
«Um dia no cárcere» de João Henrique Pinto foi difícil de digerir, começa muito bem, leva-nos ao pormenor de uma sala de tortura, gosto do detalhe, mas vai perdendo o interesse no decorrer da acção.
Já «O elefante e o cavalo» de David Soares é para mim o melhor. David Soares traz-nos a estranheza e o sórdido, num conto muito bem escrito, como é habitual neste autor, numa escrita que me dá muito gosto e desafio ao ler.
Aqui podemos ler sobre uns seres do mais arrepiante que podemos imaginar, os Miri Nigri, criaturas horríveis que nascem de uma mistura de dejectos, sangue e sémen, criaturas que nascem desdentadas e logo procuram cacos de vidro e pedaços de madeira e pregos cravados nas gengivas para fazer de dentes, uma boa personagem para um filme de terror.
Amei esta.
Na sequência segue-se « As sombras sobre Lisboa» de João Seixas, outro grande conto! Adorei a forma como caracteriza as personagens, usando Eça de Queirós como personagem principal, juntando voodoo, zombies assassinos e uma boa dose de traição e muito mistério e mais não digo.
Quero ainda destacar «Arroz de Abominação» por ser simplesmente delicioso, para mim um conto obrigatório, mesmo que solto da colectânea, pelo conteúdo alimentício e por espelhar totalmente o espírito "TUGA"
Por fim, quero referir «As Confissões» por ter uma atmosfera diferente dentro de todo o ambiente aqui criado, trazendo a cultura lovecraftiana, sem ser um conto de terror.
Já me alarguei muito nesta critica, mas para finalizar vou reforçar que para quem gosta deste género e não é um super entendido na temática, esta é uma boa escolha. Acredito ainda que sintamos necessidade de pesquisar por imagem de monstros e criaturas estranhas para compor e criar melhor os cenários na nossa cabeça, se bem que o livro tem algumas ilustrações.
Recomendo vivamente.
Ler mais sobre o livro aqui
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