terça-feira, 31 de maio de 2016

«Vamos comprar um poeta» de Afonso Cruz :: Opinião




Contrariando a tendência que tenho para me alongar sempre que escrevo sobre os livros que leio e porque aqui podia correr o risco de escrever quase tanto como o texto que compõe este «Vamos comprar um poeta», pois tanto se poderia dizer.
Digo sem rodeios que o melhor que têm a fazer é mesmo comprar um poeta. Se o dinheiro não chegar, o melhor será encontrar o poeta dentro de si ou quem sabe procurar por algum à sua volta, talvez um familiar ou um amigo. Se ainda assim não encontrar um poeta, compre o livro do Afonso Cruz.

"Uma janela é uma janela, mas uma janela que é um pássaro a voar é uma realidade mais profunda, para lá do vidro, algo que está para além da definição do dicionário, está do outro lado da janela, mas que faz parte dela e que a descreve, ainda que por um breve momento.
Uma janela é muitas coisas e..."

Para contrariar o vazio sentimental que afecta a sociedade em geral e combater a precariedade e bancarrota (sentimental) até mesmo dentro das família, uma família pragmática, centrada nas regras e na prosperidade da economia decide dar um novo tom à sua realidade e comprar um poeta.

Na tentativa de ir desembaciando os dias e porque a "poesia é um dedo espetado na realidade" a família vai experimentando as peripécias de ter um poeta deambulando por casa.

Como irão estas vidas lidar com este inutilista?

"(...) estudos afirmam que os poetas vivem com pouca relação com a realidade e com quem os rodeia..."

«Vamos comprar um poeta» é um mini tratado de como olhar a vida para além das definições que vêm no dicionário obrigatório do viver em sociedade. É também o retorno à magia e à poética que os momentos simples da vida têm, mas que pela frieza do crescimento e o passar do tempo vamos perdendo.

"Aos poucos fui começando a perceber o que o poeta dizia (...)
Metáforas.
     Metáforas?
     Sim, confirmou o poeta.
Peço desculpa, mas um sapato não é um luva apaixonada pelas mãos erradas. No mundo onde todos vivemos chama-se mentira e é muito feio, desconta-nos muitos pontos percentuais de moralidade.
(...)
Francamente."


Uma edição Editorial CAMINHO

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