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Greene apresenta-nos um livro que questiona a felicidade, o amor, a traição, as crenças, a fé, as tentações... o livro explora o factor humano presente em todas as implicações que as nossas decisões acarretam e que por conseguinte não as tornam em nada, fáceis.
O peso entre a razão, o que é correcto, o domínio da verdade, o valor das atitudes e o peso do disfarce, quando todo o mundo conspira em direcções opostas e com objectivos virados para si mesmo, Maurice Castle não é excepção.
Homens como Daintry, Davis, Watson e o próprio Castle são homens que buscam por algo que talvez não venham a encontrar. Numa época dominada pelos interesses do Mundo Ocidental, o peso da "cortina de ferro", os resquícios do "apartheid" e como não podia deixar de ser a guerra pessoal pela moral e pela diferença entre os sentimentos que se têm e os que se deveriam ter.
A divisão emocional, político-partidária, religiosa e até geográfica marcam as passagens que determinam este romance.
O potencial terror da separação, a incógnita que é o futuro e o poder das instituições do século XX tornam muitas das linhas de "factor humano" em linhas de comando e de raciocínio, fazendo "a ponte" para os dias da actualidade, onde, mesmo passado um século notamos as semelhanças para os actuais jogos de poder e de interesses e a pouca transparência nas decisões políticas, económicas e sociais que dominam no nosso cotidiano.
Aquele que é quase o sub título deste livro - "todo o homem apaixonado é um potencial traidor", paira no ar até ao final do livro, remetendo a pergunta sobre que tipo de paixões nos fazem atraiçoar e o que é que se podem, efectivamente considerar uma traição!?!?
Podemos amar uma mulher, um país, um ideal, mas o que podemos mesmo trair senão a nós mesmo!? Esta talvez seja a questão que mais me intrigou...
"Mas Castle nunca conseguiria perdoar aquele oficial educado e impassível da BOSS. Eram os homens daquela espécie - homens com suficiente educação para saberem o que estavam a fazer - que transformavam a Terra num inferno. (...) Os nossos piores inimigos não são os ignorantes e os simples, por mais curéis que sejam, os nossos piores inimigos são os inteligentes e os corruptos."
Esta é sem dúvida a história de homens inteligentes, educados, mas igualmente apaixonados e por isso mesmo corruptos?
"Dizes: não sou livre. Mas ergui a minha mão e deixei-a cair."
É com expressões tão breves e simples que se rege a grandeza da prosa de Greene, a simplicidade, mas a profunda preocupação de Castle com África e o seu povo, está presente em passagens magníficas como a seguinte:
"(...)
- o funeral pode passar sem mim. Se houver vida após a morte, o Davis vai compreender e se não houver...
- Tenho quase a certeza de que existe vida após a morte - replicou Cornelius Muller.
- Tem? A ideia não o assusta um pouco?
- Porque me deveria asssustar? Sempre tentei cumprir o meu dever.
- Mas aquelas suas pequenas armas tácticas e atómicas. Pense em todos os pretos que irão morrer antes de si e estarão ali à sua espera.
(...)"
Mais uma vez repito que a simplicidade como certas passagens estão colocadas, são altamente escrutinantes, apenas posso dizer que não apreciei a frieza da morte de Buller, mas isso já factores humanos...
... foi um cenário com o qual me deparei e nessa noite já não fui capaz de ler mais.
Creio ainda que é preciso dizer que Graham Greene foi notável no mundo da escrita, um autor altamente atento tanto às particularidades do ser humano como à história que envolve e evolui para o mundo dos nossos dias, a sua importância é tal que existe anualmente Graham Greene International Festival.
"Ele vai ser lido e lembrado como cronista fundamental da consciência e das ansiedades do ser humano do século XX."
Observer
Agora fica a faltar o visionamento do filme "Invictus" e perceber até que ponto a história de Castle e Sarah se misturam com o livro inspiracional "The Game That Changed The World” de John Carlin.
Até lá, boas leituras e quem sabe, boa sessão de cinema.
Um livro, CASA DAS LETRAS
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