sexta-feira, 28 de junho de 2013

«Adeus Berlim» de Wolfgang Herrndorf - Opinião



Uma leitura motivada pela primeira Noite Literária Europeia em Lisboa e pelo facto de ter sido um Prémio Nacional de Literatura Juvenil Alemã, mas convêm também dizer que à quem compare este «Adeus Berlim» a obras como «As Aventuras de Huckelberry Finn», de Mark Twain e Uma Agulha no Palheiro, de J. D. Salinger ou até o registo descontraído e alucinante ao jeito de Jack Kerouac, por isso decidi-me a conhecer Maik e Tschick ou Psico e o Russo, como eram apelidados na escola, mas que graças ao mergulho numa aventura de Verão se auto intitulam de Condes... Conde Lada e Conde Koks.

Maik e Tschick constroem uma teia de diálogos que apelam à risota e à boa disposição, num misto de ingenuidade e curiosidade típica de jovens de quatorze anos. Não se pode dizer que ambos fossem compinchas e melhores amigos de escola, já que Maik é quase que invisível ao passo que Tschick é temido pelos colegas, no entanto tudo pode mudar e muda, graças a umas férias de verão diferentes e aventureiras.

Montados num velho Lada, os jovens sentem a liberdade de conduzir - quase - sem destino, já que o destino é duvidoso, bem como os habitantes e as descendências - suábios, valáquios, ciganos judeus, franceses ingleses... e toda uma conversa surreal, que dos contornos geográficos, viaja às opções sexuais e aos preconceitos de que se veêm alvo na escola.
De braço de fora e cabelos ao vento, a banda sonora desta jornada, oscila entre a Beyoncê, isto quando se insiste no caminho do coração, mas o verdadeiro caminho é o aventura e o grito de revolta por umas férias ousadas grita mais alto e com os White Stripes.

Se a história de Tschick é envolta num mistério, Maik desvenda tudo, a mãe é alcoólatra e o pai, que tem cara de teckel, usa os negócios para descuidar o seu papel. No meio da lixeira, enquanto procuravam uma mangeira, encontram Isa, envolta num cheiro fétido e numa história que fede a mentiras... mas adiante, que a juventude não se perde em detalhes, mas antes em novidades.

Talvez por coincidência, ou não, encontro semelhanças numa leitura recente, do livro de Dennis Johnson, não sei se pelos amigos, se pelo carro e também com Kerouac, mas aí devido aos hipopótamos... ou então talvez seja mesmo fruto de uma narrativa alucinante e recheada de detalhes grotescos.

"Um hipopótamo surgiu à nossa frente, abrindo caminho por entre os arbustos. Algures na Alemanha, mesmo junto à autoestrada, no mais completo deserto, um hipopótamo abriu caminho por entre os arbustos e desatou a galopar na nossa direcção. Usava um fato azul, tinha uma permanente loura, de caracóis tipo carapinha, e empunhava um extintor..."

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