Muito tenho lido sobre a segunda guerra mundial e é
impressionante o quanto eu tenho a noção que sei tão pouco sobre muitos dos seus acontecimentos.
Quando penso que já li de tudo um pouco, de vez em quando e agora ultimamente tem sido mais recorrente surgir algures
um novo livro ou filme que explora um outro lado que eu desconhecia.
Desta vez fui arrebatado por este relato de Sarah Helm, sobre Ravensbrück, um campo de concentração só para
mulheres, que foi dos primeiros a ser construído e dos últimos a
encerrar portas.
Antes de mais, é importante reforçar uma pergunta: como é que se sabe tão
pouco deste campo? e como é que só agora se fala nele? Apesar do final da guerra e dos julgamentos, a cortina de ferro que dividiu o lado ocidental do oriental, isolou por completo os acontecimentos de Ravensbrück, Tornou-se um marco de resistência comunista que dificultou a passagem de testemunhos sobre as atrocidades cometidas ao longo de tantos anos.
Entramos neste livro como se fosse no próprio campo, ainda antes
de este estar construído, assistimos à sua edificação e a autora explica os motivos que levaram ao seu surgimento, onde,
como e por quem. Ravensbrück, aberto em 1939 e apenas a 80 km de Berlim, foi implementado num cenário quase bucólico na costa báltica, mas de poesia e beleza natural teve muito pouco nos anos que se seguiram.
Assistimos ao treino das mais brutais carcereiras, os seus
pensamentos são revelados e os seus actos explicados. O relato e a narrativa de Helm são vívidos o suficiente para nos espantar com tal desumanidade gritante. Os relatos reais seguem-se uns aos outros, uns de prisioneiras, ouros de escravas e até de guardas, revelando detalhes dos dias dentro do campo.
Relatos de prisioneiras que foram submetidas a abortos forçados,
esterilização, prostituição forçada, trabalho escravo, mulheres-cobaias para as mais diversas experiências, todas elas cruéis e desumanizantes.
Helm afirma que Ravensbrück foi a capital do crime contra as mulheres à semelhança de Auschwitz contra os judeus.
Helm afirma que Ravensbrück foi a capital do crime contra as mulheres à semelhança de Auschwitz contra os judeus.
Os relatos são impressionantes, alguns foram escritos muitos anos
depois da libertação,mas outros, ardilosamente escondidos no campo para
mais tarde serem encontrados. Todos eles têm como fio condutor: tortura, fome, desespero, humilhação, mas também coragem, bondade e fé.
A crueldade de alguns relatos, como alguns de Selma van der Perre, colocara Sarah Helm a chorar, tal como a autora afirma, quando descrevem como se deixavam morrer bebés e crianças.
A crueldade de alguns relatos, como alguns de Selma van der Perre, colocara Sarah Helm a chorar, tal como a autora afirma, quando descrevem como se deixavam morrer bebés e crianças.
Todo o livro é um compêndio de credos e apelos a cada deus, já que neste campo não existiam só judias. Eram de todas as raças e religiões, cometedoras de pequenos delitos ou apenas por acreditarem num deus errado. Bastava também ser da oposição.
Os relatos referentes às testemunhas de jeová são também curiosos. Sendo estas muitas vezes punidas e torturadas por se recusarem a participar em qualquer esforço de guerra, conseguindo escudar-se na sua crença, encontrando nas rezas a força para suportar o fardo de estarem encarceradas e serem torturadas. A dinâmica que as mulheres jeová acabam por estabelecer fortalecia os actos de outras, negando a participarem em certas actividades.
"Ignorar Ravensbrück não é só ignorar a história dos campos de concentração, é também ignorar a história das mulheres", afirma Sarah Helm.
Para quem gosta do tema é mais um excelente livro para se
conhecer os meandros de uma ideologia de uma guerra, mas lembrem-se que este é um livro pesado, não só pelo tamanho,
mas pelo conteúdo. Por Ravensbrück passaram mais de 130 mil mulheres das quais
se estima que, entre 30 a 50 mil, nunca chegaram a sair.
Ler mais sobre o livro aqui.
1 comentário :
Para quem já leu "Se isto é um homem" de Primo Levi a diferença não há-de ser muita, mas não deixa de me surpreender o facto de ter havido um campo de concentração só para mulheres. Desconhecia. Obrigada pela partilha.
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