No outro dia lia sobre Etgar Keret e sobre o seu último livro publicado cá, «Sete anos bons» que são aqueles em que conseguiu ser em simultâneo, filho e pai para o seu filho. E inevitavelmente lembrei-me deste «O meu nome é Lucy Barton», leitura a qual ainda não tinha sido alvo de um texto aqui para o blogue.
Lucy Barton pega num episódio da sua vida, um período em que esteve hospitalizada e fala de ser filha, mas também de ser mãe. Na monotonia da espera pela recuperação, a visita da mãe, fá-la também recuperar dores, lembranças e preocupações que pautam a relação mãe-filha e claro, as comparações comparações que tecem as histórias das famílias.
"Se compreendo a dor que as minhas filhas sentem?
Acho que sim, embora elas possam afirmar o contrário. Mas creio que conheço muito bem a dor que nós, crianças, apertamos contra o nosso peito, como ela dura a totalidade das nossas vidas, com anseios tão desmesurados que não se consegue sequer chorar. Agarramo-la com força, nós, com cada espasmo do coração que bate: Isto é meu, isto é meu, isto e meu."
É esse tão seu que vamos lendo nestas páginas e pensando talvez em quantas coisas também são tão nossas e talvez por isso este livro tenha sido lido e pousado, sossegado, ali num canto, canto esse que por vezes chamava por mim e se continuar a apelar ao lado íntimo e familiar corro o risco de apelidar o livro de lamechas e não é nada disso que aqui se encontra. É antes o lado cruel da falta de amor, um amor sempre a saldo negativo, mas que encontra a desforra e o acerto de contas com o chegar do fim da vida.
"(...) Esta é a história de uma mãe que ama a sua filha. De modo imperfeito. Porque todos nós amamos de forma imperfeita. (...)"
Podemos dizer que este é um livro que pode conter algumas lágrimas, a redenção está lá, espreita por todo o lado, apelando a que sejamos mais capazes de compaixão, nem que ela por vezes venha só assim, em doses contidas, em coisa pouca, de cem duzentas páginas. Importa é vir. É como o amor.
"E nessa altura ele olhou para mim, com uma grande bondade no rosto, e vejo agora que reconheceu aquilo que não reconheci: que, apesar da minha plenitude, estava só. A solidão foi o primeiro sabor que provei na vida, e esteve sempre lá, escondida nas frestas da minha boca, para mo recordar. Ele viu isso naquele dia, parece-me. E foi generoso."
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Um livro ALFAGUARA | Penguin Random House Grupo Editorial
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