Se escrevessem um livro sobre a vossa infância em família, qual seria a primeira memória que partilhariam com o leitor?
Um momento feliz que ainda hoje vos faz sorrir ou um evento triste que vos marcou para sempre?
Jeannette começa com uma chapada na cara à minha precaução maternal de não deixar as crianças brincar com o fogo mas o mais interessante é que ao longo do livro as chapadas sucederam-se e mesmo assim cheguei ao fim a adorar ler as memórias de quem cresceu "ao deus-dará" e conseguiu dar a volta à sua vida.
Pergunto-me se eu teria sobrevivo à vida que Jeannette viveu. Ou melhor, que mazelas carregaria comigo na idade adulta?
Ao longo deste livro dei comigo a parar e pensar em episódios da minha tão banal e feliz infância. Decididamente não tinha conteúdo para um livro. Acho que seríamos aborrecidos quando comparados com os Walls. Não somos nem de longe tão interessantes, inconvencionais e loucos. Porque é isso que os Walls são.
Ah isso e uma cambada de inconsequentes que colocaram quatro crianças no mundo para viveram em permanente miséria e negligência.
Desculpem, mais que ser filha de uma família super normal, sou também uma mãe que por mais que ache graça à frase "I plan to give you love, nurturing, and just enough dysfunction to make you funny" consegue estabelecer e respeitar o limite do prejudicial para a educação do seu mini leitor.
Mas julgamentos à parte, esta é sem dúvida uma grande lição de vida e que merece uma leitura de diversas pessoas, nem que seja para que coloquem uma mão na consciência e umas quantas coisas em perspectiva.
Acompanhamos o crescimento de Jeannette e dos irmãos ao sabor do vento e com directrizes de pais despreocupados cujo os ocasionais rasgos de genialidade permitiram que tanto a nossa autora como os irmãos se tornassem ser humanos forçosamente autónomos, interessantes e fortes mas também altamente cicatrizados por uma vida inteira vivida aos trambolhões. Se no início acompanhamos uma Jeannette que idolatra o pai, esse fascínio sobre a realidade da sua vida e sobre os seus progenitores vai ganhando outros contornos com a idade e os momentos ultrajantes que vai vivendo.
Rex, o pai, faz vida a saltar de trabalho em trabalho, sempre a sonhar alto com planos que o vão enriquecer mas sempre a cair fundo com a bebida. Rose Mary, a mãe, é uma artista sempre em produção mas sem qualquer pingo de instinto maternal e foco no resto das coisas, especialmente na sua família. Resumindo, a família Walls é encabeçada por dois adultos mais concentrados na sua auto-satisfação que no bem estar dos seus filhos. Ambos vivem em busca da excitação de uma aventura e de mais um copo. E o que custa ainda mais ver na degradação sofrida no seio da família Walls é que não falamos de dois pais sem capacidades para darem aos filhos e a si próprios uma vida em condições, onde existe comida na mesa e um tecto sobre as suas cabeças.
A questão é que....eles simplesmente não estavam nem aí e com a idade de Jeannette e dos irmãos veio o intensificar das condições deploráveis em que tiveram de crescer.
Há momentos que me deixaram de boca aberta, outros que me revoltaram, outros em que tive vontade de gritar mas também houve os que me fizeram sorrir.
Por mais reservada que seja em relação à minha vida, actual ou passada, acho interessante a capacidade que Jeannette teve para abrir uma janela...perdão, partir uma parede para um passado tão pouco convencional.
"O Castelo de Vidro" não é um conto de fadas, nem sequer uma obra de ficção. É sim uma dura visão da realidade de duas almas inconformistas que arrastaram os filhos para a aventura da vida numa montanha russa onde ninguém está amarrado e da qual pode ser cuspido a qualquer momento.
Espero realmente que o filme faça justiça à realidade que Jeannette nos conta. Pelo que já vi, a escolha do Woody Harrelson para o papel de Rex, o pai de Jeannette é simplesmente espectacular.
Deixo ficar o trailer. O filme chega em setembro.
E o trailer vem acompanhado de uma das minhas músicas preferidas :D
Mas primeiro leiam "O Castelo de Vidro". É uma boa mudança dos tipos de livros que costumo ler. Não me lembro da última vez que li um livro autobiográfico, muito menos com esta carga emocional.
"O Castelo de Vidro" é uma magnífica aposta
Um momento feliz que ainda hoje vos faz sorrir ou um evento triste que vos marcou para sempre?
Jeannette começa com uma chapada na cara à minha precaução maternal de não deixar as crianças brincar com o fogo mas o mais interessante é que ao longo do livro as chapadas sucederam-se e mesmo assim cheguei ao fim a adorar ler as memórias de quem cresceu "ao deus-dará" e conseguiu dar a volta à sua vida.
Pergunto-me se eu teria sobrevivo à vida que Jeannette viveu. Ou melhor, que mazelas carregaria comigo na idade adulta?
Ao longo deste livro dei comigo a parar e pensar em episódios da minha tão banal e feliz infância. Decididamente não tinha conteúdo para um livro. Acho que seríamos aborrecidos quando comparados com os Walls. Não somos nem de longe tão interessantes, inconvencionais e loucos. Porque é isso que os Walls são.
Ah isso e uma cambada de inconsequentes que colocaram quatro crianças no mundo para viveram em permanente miséria e negligência.
Desculpem, mais que ser filha de uma família super normal, sou também uma mãe que por mais que ache graça à frase "I plan to give you love, nurturing, and just enough dysfunction to make you funny" consegue estabelecer e respeitar o limite do prejudicial para a educação do seu mini leitor.
Mas julgamentos à parte, esta é sem dúvida uma grande lição de vida e que merece uma leitura de diversas pessoas, nem que seja para que coloquem uma mão na consciência e umas quantas coisas em perspectiva.
Acompanhamos o crescimento de Jeannette e dos irmãos ao sabor do vento e com directrizes de pais despreocupados cujo os ocasionais rasgos de genialidade permitiram que tanto a nossa autora como os irmãos se tornassem ser humanos forçosamente autónomos, interessantes e fortes mas também altamente cicatrizados por uma vida inteira vivida aos trambolhões. Se no início acompanhamos uma Jeannette que idolatra o pai, esse fascínio sobre a realidade da sua vida e sobre os seus progenitores vai ganhando outros contornos com a idade e os momentos ultrajantes que vai vivendo.
Rex, o pai, faz vida a saltar de trabalho em trabalho, sempre a sonhar alto com planos que o vão enriquecer mas sempre a cair fundo com a bebida. Rose Mary, a mãe, é uma artista sempre em produção mas sem qualquer pingo de instinto maternal e foco no resto das coisas, especialmente na sua família. Resumindo, a família Walls é encabeçada por dois adultos mais concentrados na sua auto-satisfação que no bem estar dos seus filhos. Ambos vivem em busca da excitação de uma aventura e de mais um copo. E o que custa ainda mais ver na degradação sofrida no seio da família Walls é que não falamos de dois pais sem capacidades para darem aos filhos e a si próprios uma vida em condições, onde existe comida na mesa e um tecto sobre as suas cabeças.
A questão é que....eles simplesmente não estavam nem aí e com a idade de Jeannette e dos irmãos veio o intensificar das condições deploráveis em que tiveram de crescer.
Há momentos que me deixaram de boca aberta, outros que me revoltaram, outros em que tive vontade de gritar mas também houve os que me fizeram sorrir.
Por mais reservada que seja em relação à minha vida, actual ou passada, acho interessante a capacidade que Jeannette teve para abrir uma janela...perdão, partir uma parede para um passado tão pouco convencional.
"O Castelo de Vidro" não é um conto de fadas, nem sequer uma obra de ficção. É sim uma dura visão da realidade de duas almas inconformistas que arrastaram os filhos para a aventura da vida numa montanha russa onde ninguém está amarrado e da qual pode ser cuspido a qualquer momento.
Espero realmente que o filme faça justiça à realidade que Jeannette nos conta. Pelo que já vi, a escolha do Woody Harrelson para o papel de Rex, o pai de Jeannette é simplesmente espectacular.
Deixo ficar o trailer. O filme chega em setembro.
E o trailer vem acompanhado de uma das minhas músicas preferidas :D
Mas primeiro leiam "O Castelo de Vidro". É uma boa mudança dos tipos de livros que costumo ler. Não me lembro da última vez que li um livro autobiográfico, muito menos com esta carga emocional.
"O Castelo de Vidro" é uma magnífica aposta
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