"Sejam rosas que crescem no cimento"
É com a última frase dos agradecimentos e referência a Tupac Shakur, que abro a minha opinião sobre o magnífico "O Ódio que Semeias".
Por vezes parece fácil ficar alheia a coisas que acontecem do outro lado do mundo mas acho que acima de tudo isso acontece porque nunca fomos confrontados com esses eventos ou as situações que os causaram mesmo debaixo do nosso nariz.
O meu bairro é seguro, eu não fui criada ao som de tiros ou ensinada a temer a Polícia.
A Starr Carter não pode dizer o mesmo. Quando tinha 12 anos o pais tiveram duas conversas com ela, uma sobre "como nascem os bebés" e outra sobre como agir se a polícia alguma fala-se com ela.
Mantém as mãos à vista, nada de movimentos súbitos e fala só quando falarem para ti.
Pode parecer-nos exagerado mas Starr levou a sério os ensinamentos dos pais e embora nunca tenha necessitado de fazer uso dessa informação, teve-a sempre presente enquanto cresceu no bairro de Garden Heights, um local onde gangues rivais disputam território, a droga é moeda de troca e onde raramente os jovens chegam à maioridade sem se meterem em algum problema, acabarem na prisão ou mortos.
A família Carter tem feito os possíveis para dar aos filhos um futuro melhor e embora mantenham as suas raízes no bairro, Starr e os irmãos estudam numa escola fora do bairro, rodeados de brancos "de boas famílias". Mas se durante a semana fazem vida na Williamson, o resto do tempo é passado no bairro e é numa dessas noites que tudo muda e Starr se vê obrigada a repensar toda a sua vida, assim como modo como vê o mundo que rodeia,
Um amigo de infância jaz baleado no chão, o segundo em apenas 16 anos, um polícia branco aponta-lhe uma arma e Starr congela no tempo sem conseguir acreditar no que está a acontecer.
E nós também não!
Nunca fomos confrontados com tal sentimento e na pele de Starr somos sugados para o momento, para a confusão e dor que se cria na sua cabeça, para a raiva que se acumula e se agita no seu peito e para a luta que se trava entre honrar a memória do amigo ou manter-se em segurança.
"Sempre que estou inteira e de volta ao normal, acontece algo que me desfaz, e sou obrigada a começar tudo de novo"
Starr, ao seu jeito cru, teen e sincero coloca a nú as dificuldades de viver no seu mundo, de tentar ser fiel à sua educação e sentido de comunidade, enquanto por outro lado mantém a fachada numa escola onde miúdos negros baleados pela polícia é algo que se vê na TV e se esquece assim que se muda de canal, até porque provavelmente "era traficante e estava a pedi-las"
Dos vários momentos que tive vontade de dobrar cantos neste livro, especialmente nas cenas que envolvem a família Carter, dei comigo a fixar o momento em que Starr refere que não acredita que seja possível alguém ser culpado do seu próprio assassinato.
E é esse o foco principal de "O Ódio que Semeias", uma história actual, não só sobre os que são injustamente perseguidos mas também sobre os que cá ficam a chorar uma vida perdida e a sua incapacidade de se fazer ouvir, de pedir justiça.
"O ódio que semeias" é uma chapada na cara que nos faz pensar no quanto somos privilegiados por termos tido a oportunidade de nascer onde e como nascemos.
É triste pensar que uma vida humana se perca assim porque continuamos a alimentar preconceitos e ideias feitas sobre as pessoas só pela sua cor da pele, o seu aspecto ou o sítio de onde vêm.
Aqui o amigo de Starr chama-se Khalil mas quantos Khalil não morrem todos os dias?
Quantos ombros se encolhem perante a notícia de mais uma morte de um miúdo num bairro problemático?
E agora pergunto eu...
quantas mentes se podem abrir com a leitura deste livro?
IMENSAS!
Se Angie Thomas se inspirou no Tupac, um activista que transmitia a sua mensagem através da música, então inspiremo-nos em Angie Thomas para contribuir para a educação de muito boa gente, especialmente de quem temos em casa e que olha para o mundo através de um filtro que ajudamos a criar.
"O ódio que semeias" nas crianças lixa toda a gente, dizia o Tupac, reforça a Angie e eu concordo.
Não é altura de mudar?
I come here today to talk about how I feel
And I feel like that we are treated differently than other people
And I don't like how we’re treated
Just because of our color doesn't mean anything to me
E o Filme?
Já está a ser rodado e vejam algumas das fotos que têm sido partilhadas no Instagram aqui
Pronto, agora vou fechar a matraca e dizer "favor incluir O Ódio Que Semeias na lista de presentes para este natal".
Uma novidade
Para mais informações visitem o site Editorial Presença
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