Pela premissa deste livro sabia que a leitura não seria fácil. Uma história com crianças nunca o é mas é ainda pior quando as miúdas em "O Silêncio das Filhas" vivem uma vida moldada por homens e rapidamente se tornam mulheres que cumprem um propósito ou morrem.
"Riso por um rapaz, lágrimas por uma rapariga".
A reacção aos primeiros momentos de vida de uma criança diz bastante sobre o ambiente que a rodeia, especialmente quando quem a trouxe ao mundo e as restantes mulheres à sua volta lamentam a sua condição.
Mas antes de abordamos o cerne da questão é preciso colocar as coisas em perspectiva.
A ilha é um santuário para um punhado de famílias, uma sociedade restrita que conseguiu isolar-se ali porque para além daquele local, lá para nas terras devastadas, só resta fogo, destruição e morte.
Num sistema patriarcal regido pelas regras dos antepassados, os Andarilhos (responsáveis) que vieram para aquela ilha ergueram aquela comunidade onde as mulheres são criadas para imitarem as mães, agradarem os pais e crescerem para serem esposas e procriadoras.
Cada pessoa tem uma função e assim que a passa à geração seguinte, deixa de ser preciso, quer seja homem ou mulher.
Por isso, enquanto tentamos compreender o que os levou ali, o que significa o verão de fruição ou em que consiste este sistema de interajuda e estreitos laços familiares, somos confrontados com o descascar da cebola. Cada nova camada colocada a descoberto é mais uma picada nos sentidos, mais uma lágrima que se quer escapar em reacção ao ácido que nos corroí com a leitura, com a descoberta e com o horror de certos cenários que ficam subentendidos nas histórias de Janey, Amanda, Caitlin ou Vanessa, já que esta história é-nos sempre contada pelo ponto de vista das miúdas que estão dos dois lados da barricada que divide a condição de criança da de mulher.
A pergunta que se coloca é sempre...será este o último verão?
Será que não existe mais nada além do que nos disseram ser a verdade?
Até quando o silêncio se irá manter e qual o preço a pagar para quem o quebrar?
A pergunta que se coloca é sempre...será este o último verão?
Será que não existe mais nada além do que nos disseram ser a verdade?
Até quando o silêncio se irá manter e qual o preço a pagar para quem o quebrar?
Confesso que esta leitura me deprimiu um pouco mas por vezes é bom ler algo de mexe connosco a um nível mais profundo, que nos faz parar para pensar, que nos faz querer sair para o mundo e combater as atrocidades que nos rodeiam.
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