quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

«Pecados Santos» de Nuno Nepomuceno :: Opinião


Antes de falar propriamente do enredo, preciso de dizer que é extraordinário ver a evolução da escrita de um autor e poder ler esse salto de qualidade, maturidade e a forma como consegue, e sabe, agarrar o leitor.
Aqui no Efeito dos Livros, seguimos de perto o trabalho de Nuno Nepomuceno e muito nos orgulha que nos escolha, repetidamente, para divulgar o seu trabalho.
Este novo thriller marca uma viragem na carreira do autor, existiu toda uma nova abordagem na divulgação da escrita de Nuno Nepomuceno e parece-nos ter sido feita uma excelente campanha, no entanto, é a qualidade do livro que o está a levar a todos os escaparates e tops de venda.

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"Se sofreis castigo, é porque Deus vos trata como filhos. 
Qual é o filho a quem o pai não castiga? 
Mas, se estais livres de castigo, do qual todos partilham, 
então sois bastardos e não filhos."


As palavras bíblicas pautam os trilhos deste enredo e fazem rodopiar o professor Afonso Catalão e a jornalista Diana entre Londres e Lisboa, mas também Jerusalém, na ânsia de serem capazes de desvendar a morte, com encenação e proporções santas, de um rabino na Sinagoga de Bevis Marks, para a qual atribuíram um culpado, Jonatham, filho de Judite, uma antiga amiga do professor. 
Porém, não julgue o leitor que o enredo se resumirá a conhecermos os caminhos românticos de um professor charmoso que, em tempos conturbados, irá ajudar a investigar uma série de crimes no seio da comunidade judaica. Não, não só, antes pelo contrário. O leitor terá aulas intensivas sobre a religião e tradição judaica, de modo a mergulhar no cenário que justifica o enredo. 
Essa tendência de agregar conhecimento a entretenimento é um traço característico dos livros de Nepomuceno e este não é excepção. 

Se no anterior, «A Célula Adormecida» (que a metade colorida devorou), o leitor se perdeu pelos meandros do terrorismo, do Islão e do Corão, desta vez, os crimes são autênticos quadros de sacrifícios bíblicos, a palavra é a da Tora e a comunidade alvo é a judaica. Quem sabe num próximo o autor de dedica ao Cristianismo, tal como o próprio disse numa entrevista. Ou seja, a religião é a causa da maioria dos conflitos vigentes e o autor pretende ajudar a compreender esses fenómenos enquanto brinda o leitor com um livros viciantes. 

Consegue-o tão bem e de forma tão emocionante e envolvente como qualquer outro escritor de thriller. Nepomuceno está à altura da maioria dos autores do género e os fãs reconhecem-no por isso.
A leitura de qualquer um dos seus livros pode ser feita em separado, mas até nisso o autor se tornou brilhante, levantando algumas pontas, aqui e ali, para que o leitor se sinta tentado a ler o anterior. Como eu fiquei, e irei ler em breve, para saber mais dos dissabores na vida de Afonso Catalão. Melhor, há ainda umas piscadelas de olho, com piadas, que o autor faz consigo mesmo. É de génio.



Um livro, Cultura Editora.

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