quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

«Também os brancos sabem dançar», um romance musical de Kalaf Epalanga :: Opinião


Um romance musical só se faz com ritmo e passos de dança, ao sabor melodias que nos levam para longe; viajamos com palavras até outras danças, outros corpos... músicas que se cruzam num enredo que transpira kuduro, coladera, kizomba, semba e fado, palavras que se misturam na sua lusofonia”.

«Também os brancos sabem dançar» poderá ser um romance da geração Buraka, aliás, inclui de certeza mais duas ou três gerações, as que cresceram em bairros sociais, as que testemunharam a influência das grandes superfícies comerciais no moldar da sociedade de periferia e aquelas que hoje, desde há dez anos para cá assistem a uma africanização ou kizombização da música e de Portugal. Explicar a origem do kuduro é viajar até à festa de quintal angolana, mas entender o semba e a kizomba também. É perceber que uma comunidade faz de uma sexta feira uma festa que começa numa sentada familiar e acaba a altas horas da madrugada. 
Mas gostar de kuduro implica gostar de semba? Sentir o beat e ser capaz de mexer o corpo mistura brancos e pretos, e outros, numa união nunca antes vista?!? Kalaf explica e ficciona, entretêm o leitor e vai-lhe dando música. Os temas sociais estão lá, o racismo, o politicamente correcto, a discriminação no mercado de trabalho, a ignorância para com o desconhecido, a desconfiança no vizinho do lado...Mas não é só isto. É muita música e é muito mais. Kalaf pega no leitor e leva-o por uma viagem bastante inteligente e completa, as paisagens são muitas, as piadas também, a critica social muito bem engendrada e em meia dúzia de palavras e até dicas de sedução e engate.

" Passavamos tardes a fio junto do rádio, a gravar a selecção perfeita que, regra geral, oferecíamos aos amigos ou às garinas. «Que nunca se subestime o poder de uma mixtape no jogo da sedução», dizia Tininho. «Uma cassete com a selecção certa, na nossa era, vale tanto quanto os sonetos de Shakespeare», acrescentava. (...)
Tal como as fotografias, as canções perpetuam momentos cujo o prazo de validade não é definido pelo tempo."

Não sei se a minha selecção faria uma mixtape perfeita, mas o roteiro musical de Kalaf fez-me compor esta playlist.

Clique na imagem para aceder à playlist
O que é que o Van Damme tem a ver com o Kuduro? 
Tudo!
Mas tem de ler para saber.





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