Não aprendi grego, mas como se costuma dizer, vi-me grega
para chegar ao fim deste romance labiríntico e enigmático de Han Kang. Não
chegam a ser duzentas páginas, mas o leitor fica perdido entre as aulas, o
mutismo, as ideias complexas, a dificuldade de apanhar o fio à meada. Chega a
faltar o ar!
É que as vozes mudam e o leitor tem alguma dificuldade em
perceber quem é quem, embora se perceba que o peso do outro e de outras fases
da vida sejam tão ou mais importantes que o presente, em que um homem, o
professor de grego, está a cegar e uma mulher, a aluna, encerrada no seu
mutismo, não toma a palavra.
Nesse aspecto, a narrativa está bem conseguida,
ela não fala e quer sumir-se para dentro de si e da escuridão das suas roupas
negras, então a narração é assumida por um narrador que tudo sabe. Que fala por
ela.
“A única pessoa que sabia que a sua vida estava
violentamente dividida em duas era ela própria. As palavras que anotava na
parte de trás do diário contorciam-se por vontade própria, formando frases
estranhas. De vez em quando essas palavras metiam-se no sono como espetos…”
No caso do professor, ele quer falar, precisa falar, então é-lhe dada voz enquanto recorda a fuga para Alemanha e o regresso à Coreia do
Sul, um pai, uma mulher…