As palavras de Nuno Camarneiro são verdades debaixo dos nossos olhos, e é no debaixo que está o problema. Nem sempre o que está perto nos envolve, nem sempre o que é óbvio nos chama à atenção.
O enredo de «Debaixo de Algum Céu» é mesmo isso, de algum, de mim, de ti, dele, do outro, alguém ao nosso lado, vocês... os outros - é o somos todos e não é nenhum!
Mentira! Acontece a mim, acontece a todos!
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"Abria os livros e tocava as páginas com os dedos e com os olhos, sem ler, sem nunca ler para que os mistérios do homem que amou não lhe fugissem. Um dia cansou-se dos livros e procurou um gato..."
O desenho bem delineado que Nuno Camarneiro faz de cada personagem, é preciso, é real, é preocupado, fica preso à rotina rotineira, calendarizada, encaixada... nefasta, mas segura!
No entanto, o leitor ganha a liberdade e pode, assim como que colorir cada uma delas, com as cores do mar, a rudeza da areia, a textura dos desejos, os cheiros dos beberetes festivos ou então deixá-los a preto e branco, acentuando-lhes a cruz que carregam ou ainda em tons sépia, esbatendo-lhes os sonhos e as ideias, numa mancha mais uniforme, unificando-os, unificando-nos!
"Um pedaço de corda azul, um búzio, algumas garrafas de plástico, dois caranguejos, uma bóia... Moço recolhe cada pedaço (...) Há coisas que lhe servem a ele e a mais ninguém..."
Encaixilhando o desenho, amarrando ideias e vidas, há um organismo que pulsa, sobe e desce, carregando as angústias, as surpresas, as traições, as pequenas vitórias... como um elevador de onde entra e sai gente.
Talvez o prédio, seja um Lote A aqui ou um Nº 8 ai, o que é certo a cada um de nós, é que todos temos um prédio, aquele onde as paredes e os tectos "são barreiras importantes feitas pelas mãos a espelharem cabeças".
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"Nenhum mundo pode ser perfeito se não tiver lugar para homens imperfeitos. No limite (...) a excentricidade como premissa."
Na premissa de sermos excêntricos, precisaremos de um dicionário para cada um de nós? Um deus pessoal e intransmissível? Quiçá um prédio só para nós?
«Debaixo de Algum Céu» está pensado para nos fazer pensar, talvez até nos educar - a sabermos olhar melhor, sentir melhor e largarmos os fantasmas, não só os do passado mas mais ainda aqueles "de gente viva, porventura os piores..."
"Deus é bom mas liga pouco a pormenores."
Façamos o mesmo, esqueçamos mais o umbigo que é o apartamento e pensemos mais no prédio, que é o mundo!
«Debaixo de Algum Céu» é o lugar ao céu, o céu que é de todos!
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3 comentários :
Olá, Cris.
Ora cá estou!
Devo dizer que absolutamente adorei a tua opinião. Fez-me reviver a indescritível mas aprazível sensação com que fiquei com o No Meu Peito Não Cabem Pássaros".
"Deus é bom mas liga pouco a pormenores."
Fabuloso.
Este Debaixo de Algum Céu não me escapa.
Obrigado!!
E devolvo-te o elogio quanto ao blogue. Tens aqui visitante recorrente.
Boas leituras.
Bj
Li há relativamente pouco tempo e adorei! É, de facto, um livro absolutamente maravilhoso.
http://numadeletra.com/41791.html
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