"Haveremos de arranjar forma de deitar abaixo este sistema de poder corrupto. Ou será já tarde demais?"
Casimiro Teixeira constrói um enredo, na sua maioria passado no nosso país, vitima da crise política, económica e de valores que se vive na actualidade. «Governo Sombra» é um thriller com ascensão a argumento hollywoodesco e esta consideração tem tanto de aspectos positivos como negativos.
O enredo quase megalómano de personagens, detalhes, conspirações, políticas, locais, datas, viagens, decisões, divisões da acção... são tantos que, a certo ponto se confundem e a meu ver minam a leitura. No entanto, a originalidade e a imaginação do autor para o nosso «cantinho à beira mar plantado» é sem dúvida uma bênção, já que vence os altos muros do espírito comedido e os atavismos de um povo de brandos costumes. Casimiro enaltece a força e o desejo de chegar mais longe em prol da pátria e dos valores comuns, deixando a luta e a "investigação" aos mãos de um (mero) escritor e desempregado e coloca ainda o foco num político que acaba a querer fazer o bem, contrariando assim a tendência.
Este primeiro thriller do autor é um misto de sensações. Tanto queremos lutar ao lado de Pedro Gonçalves como queremos experienciar a confusão natural e surreal da vida de Henrique Lobo. Depois pelo meio Mariana e Marta são duas personagens conturbadas e a meu ver pouco pertinentes no enredo a não ser o de introduzir romance. Várias são as fases da acção que decorrem com instabilidade e nos dificultam a adaptação para a realidade. Para mim, um bom thriller é aquele que de tão bem ficcionado que está consegue assemelhar-se à realidade, conferindo-lhe corpo, sentimentos, vida... é sermos capazes de ver reflectidas tais situações no dia a dia. E isto para dizer o quê!?
«Governo Sombra» é isso mesmo, demasiado hollywoodesco para Portugal, é assim que o vejo. Se o enredo tem inteligência e força na sua construção e é extremamente desafiante e inovador é igualmente exagerado e rocambolesco para o nosso país com a realidade dos brandos costumes que aqui se vive. É difícil sentir vivas as situações mais violentas num Portugal dos nossos.
Todo o livro é composto por uma aura quase científica, quase política, quase romântica, quase quase... é a eterna teoria da conspiração assombrada pelo cepticismo exacerbado. É o elogio ao comportamento típico das massas que arrastam uma opinião já gasta e desacreditada.
Há ainda que ressalvar a qualidade de algumas passagens, algumas composições quase poéticas e que abrilhantam o texto, mas rapidamente são assombradas por erros, vários...
No geral, com uma melhor revisão e o lapidar de inúmeros detalhes e referências (talvez na ânsia de retratar tanto a actualidade) para acontecimentos e factos mais concretos, o autor seria dono de um thriller actual, inteligente, impiedoso, criativo e pertinente.
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Uma edição Chiado Editora
Boas Leituras
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