"A tragédia é uma ferramenta para os vivos obterem sabedoria, não um guia para a vida", mas perante tamanhas tragédias, o que nos guia na vida? Deus? A fé?
Wm. Paul Yong encaminha a história da travessia de Anthony pelo encontro com Jesus e o Espírito Santo, reensinando-o a viver, mesmo que vá viver sem viver por ele mesmo e sempre através da cabeça dos que o rodeiam.
Colocando questões sobre a espiritualidade e o credo em Deus, Anthony confronta-se com a interrupção e os imprevistos da vida, a morte ou a doença, mas também a fúria de perceber que a morte não é o fim. E agora, que esperança?
A esperança de Anthony ou Tony, é muito reduzida quando, perante Jesus, se confronta com os destroços que são a sua vida."
"-Mas é apenas terra! Não é uma pessoa. É terra!
(...)
Pó ao pó. Terra"
"Já tinha avaliado aquele lugar a partir de um distanciamento superior e declarara-o uma terra de ninguém, juncada de destroços, uma sucata indigna de ser salva."
Descobrindo os seus "defeitos" e sentindo-se esmagado por "um punho invisível" será que Tony encontrará o caminho para a "verdadeira" travessia? Agora que todos os trilhos parecem abandonados...
Qual o papel das interrupções e dos imprevistos na nossa vida, o que nos ensinam as provações? Como descobrimos o nosso caminho e o sentido da vida?
É através de vários diálogos, como o que ocorre com Wijan Wanagi, Kusi, ou simplesmente Avó que o autor encaminha a sua história, explorando trilhos da espiritualidade. A ascensão da alma e a importância de aceitar e convidar a espiritualidade a entrar na nossa vida.
"Deus entra em todas as pessoas por uma porta privada." Ralph Waldo Emmerson
O transcendentalismo é, para Emerson, um esforço de introspecção metódica para se chegar além do "eu" superficial ao "eu" profundo, o espírito universal comum a toda a espécie humana. Alimentando assim a máxima de interpretação do ser humano com um conjunto de partes, todas elas vivas e que precisam de harmonizar para o equilíbrio. Só silenciando os ecos mais sombrios que habitam dentro de nós, poderemos ser plenos e viver em harmonia com a Terra. Levando assim estas interpretações às origens mais ascéticas do cristianismo.
A maioria da acção de «A Travessia» passa pela (SPOILER) capacidade espiritual de Anthony entrar na cabeça alheia (Maggie), para sentir e reviver o seu passado, apelando à doçura ou ao sufoco das memórias.
Nesta possibilidade de alimentar a alma, como algo vivo que é, pressupõe-se que Anthony encontra aqui a sua cura e descobre as suas falhas e as soluções necessárias para corrigir o seu passado.
De cabeça em cabeça, Tony espalha a mensagem de Deus... E a "relação" com Cabby é inesperada e reveladora - a dedicação e a luta das crianças portadoras de deficiência e das suas famílias.
Perante as histórias de personagens como Lindsay ou Cabby o autor leva-nos a perguntar qual a legitimidade de fazer pedidos pelos nossos filhos quando são tantos os filhos dos outros que também sofrem como os nossos? Que papel tem a oração na força e na luta contra a doença?
Apesar de todas as revelações e descobertas, a presença final da família, aquela a quem Anthony julgava perdida pelos seus erros, perdoa-lhe, mas ele, perdoar-se-à a si mesmo? Será Gabriel a constatação de estar perdido no limbo pela dificuldade de se perdoar a si mesmo?
Terá o perdão um papel redentor?
"Oh, alguém me guie agora, por favor,
Na travessia deste caminho intermédio
E junte os pedaços da minha alma desfeita
Ao real, que é invisível"
Trilhando um caminho que pretende calcorrear os confins da metafísica e até contornar os obstáculos da falta de espiritualidade, dá-se um encontro improvável, uma relação (ou várias) transcendental e que pretende encaminhar Anthony a fazer as escolhas certas que lhe permitirão obter a plenitude.
E a salvação, a quem dar?
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Uma leitura com o apoio da PORTO EDITORA, veja mais do livro, aqui: http://www.portoeditora.pt/produtos/ficha/a-travessia?id=15007172
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