Começo a achar que os livros que mais gosto são os que apresentam dificuldades acrescidas quando tenho de me sentar com o portátil no colo e os dedos sobre o teclado. Folheio o livro e encontro um considerável número de momentos que me roubaram o coração, uma quantidade de cantos dobrados e frases sublinhadas que está acima da média nos últimos livros que li, mas ainda assim parece que a crítica não se faz sozinha. A certa altura a nossa personagem principal, a Luísa, disse que “os momentos verdadeiramente inesquecíveis são complicados de partilhar”, pois também os livros que nos consomem um pouco da alma são difíceis de explicar a quem ainda não os leu.
Quando li a sinopse de a “Viagem ao fim do coração” dei comigo a pensar no quanto lutei contra as lágrimas nos últimos livros que li em que “amor”, “cancro” e “gente demasiado jovem para morrer” eram os ingredientes principais do bolo. Mas há livros, que mesmo sabendo que vamos sofrer ou ficar presas ao mesmo lugar durante horas enquanto o lemos, não resistimos em mergulhar de cabeça, assim como eu fiz com a história de Luísa, Pedro, Tiago e aquela malfadada doença.
Uma infância difícil, um amadurecer forçado, um momento idílico com vista sob o mundo, um amor reencontrado, uma doença devastadora e uma lição de moral, para doentes e para os que à sua volta estão.
Mais que uma história de amor(es), “Viagem ao fim do coração” é uma história sobre o cancro, perdão, é uma história em que a nossa heroína padece desse mal e nos conta os seus dias, os bons e os maus, sob um ângulo honesto, cru e por vezes cómico, já que é a primeira pessoa com autorização para gozar com o que atemoriza tanta gente.
A história é pesada mas o enredo é cativante. A escrita é tão fluída que nos arrasta a um ritmo acelerado por desejarmos absorver tudo bem depressa. Na realidade, à medida que vamos
conhecendo as personagens e vamos ficando próximos delas, quase que nos arrependemos de saber o fim. A sinopse e a inspiração num caso real (da Rita, autora do blog Episódios de Rádio) só nos faz cimentar o pensamento de que somos responsáveis pelo nosso tempo aqui, mesmo quando qualquer intervenção sob o qual não temos poderes dita que o nosso tempo é mais curto do que o desejado.
Ana Casaca, que no fim nos relembra que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, conta-nos de modo sentido e tragicamente belo o quanto o amor e a sua falta, influenciam a nossa vida e a pessoa que somos. Todos os personagens e o enredo desta história são pura ficção mas acabam por contar um pouco sobre nós leitores quando nos identificamos, comovemos ou iramos com o que lemos, com a história de Luísa, com o destino dos que a amam e a impunidade dos que sempre lhe falharam.
Não deixem de conhecer esta história e depois, saiam a reivindicar o que é vosso por direito, a vossa vida, enquanto a têm na vossa mão.
Aproveitem para ficar a conhecer a “Viagem ao fim do coração” na apresentação que terá lugar na Bertrand Picoas hoje às 18h30
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