quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Opinião "Quando Éramos Mentirosos" de E. Lockhart

Quando toda a vida almejamos a perfeição e vivemos a fachada de uma família idílica, será que estamos preparados para ver expostos os nossos segredos mais sombrios? E quando a verdade se esconde entre os membros da nossa família, aqueles que nos são próximos, será que revelar a verdade irá iluminar ou enegrecer para sempre a vida de alguém?
"Quando Éramos Mentirosos" é tudo aquilo que promete ser e muito mais.


Começamos por conhecer os Sinclair. Família abastada, com uma árvore genealógica repleta de herdeiras e uma ilha privada onde passam todos os Verões. Ser um Sinclar é ser superior, não se deixar abater e superar sempre os obstáculos, pelo menos é isso que dita o patriarca da família mesmo quando à sua volta o caminho perfeito traçado pelos seus descendentes não corre como desejado.
Mas em “Quando éramos mentirosos” concentramo-nos maioritariamente em Cadence, a neta mais velha, a herdeira e um membro integrante dos Mentirosos, o grupo que criou com os primos Johnny e Mirren e o sobrinho do novo marido da tia, Gat no primeiro verão que passaram juntos na ilha. O laço entre os quatro é forte. Os Mentirosos são amigos, primos e confidentes mas entre Gat e Cadence nasce algo mais, algo que os Sinclair tendem em ignorar, assim como fazem com Gat, um forasteiro na ilha de Beechwood.

“Eu também evito estar a sós com ele, porque todo o meu corpo canta para estar perto dele, porque cada movimento que ele faz está carregado de electricidade. Penso muitas vezes em abraçá-lo, ou em passar os dedos pelos seus lábios. Quando deixo os meus pensamentos seguirem essa direção...a dor aguda do amor não correspondido abre as portas à enxaqueca”

Mas no auge do verão dos seus 15 anos, um acidente marca Cadance e a família inteira.
Desde então, Cadence vive, ou melhor, sobrevive a cada dia que se seguiu desde o acidente num estado de trauma, de amnésia selectiva e de enxaquecas mortais. E quando finalmente volta à ilha, tudo nos é mostrado, a nós e a Cadence, de modo a refazer os passos que a levam até à noite do acidente.
A ganância, a sede de poder, a manipulação, o amor incompreendido mas vivido intensamente, o desespero, o desejo de mudança e uma inactividade mortal por parte de quem mais tem a perder. Ficamos a conhecer a familia Sinclair pormenorizadamente, todos os seus podres e a fachada que cai só mais um pouco a cada virar de página.
Percebemos que as acções de uns, perante a falta dos outros traz consequências imutáveis.

E aquele fim, aquele que o livro nos diz “mintam quando vos perguntarem por ele" é qualquer coisinha. O momento em que nos é revelado o segredo, o que realmente aconteceu no verão 15 (em que os Mentirosos tinham 15 anos) é um momento que nos deixa atónitos. Até podemos seguir a leitura mas fazemo-lo com um ligeiro torpor e somos invadidos por uma enorme vontade de voltar atrás para reler passagens, para tentar perceber como é que aquilo nos escapou.
Há segredos e acontecimentos que destroem uma família e depois há famílias que se destroem a si próprias, até as mais perfeitas, as que têm tudo para vencer.


Fora da história em si mas intimamente intercalados, tenho de salientar dois pontos que me agradaram bastante.
Primeiro que tudo, os contos da família Sinclair. Cadance altera histórias tradicionais de contos de fadas para as adaptar aos acontecimentos da sua família. Achei muito interessante, especialmente pela moral que sempre devemos tirar dos mesmos. Com as estas histórias levamos para o capítulo seguinte um pouco mais de sabedoria, sobre a família Sinclair, sobre a história e sobre nós.
E em segundo, a capacidade descritiva da autora. É mágico conseguir dizer algo tão banal como “eu chorava abraçada a ele” num paragrafo lírico que nos faz explodir a imaginação tal é o detalhe, mesmo que por vezes tenha um forte traço dos irmãos Grimm nas suas descrições.

Deixo-vos com Bastille e "Things we lost in the fire" como banda sonora

Fala-se na cedência dos direitos para que "Quando éramos mentirosos" seja adaptado ao cinema. E com a banda sonora perfeita, esta história vai conquistar muita gente e deixar outra tanta de boca aberta perante os segredos que a ilha de Beechwood.
A união entre os mentirosos, os verdadeiros Mentirosos, vai-nos tocar e devastar.

"Quando Éramos Mentirosos" foi o vencedor na categoria Young Adult nos livros do ano no Goodreads. A escolha do leitor é para ser levada em conta! Certo?

Boas leituras :)

1 comentário :

Jardim de Mil Histórias disse...

Olá!

Já vi várias opiniões sobre este livro. Todas elas diferentes!
Agora vou querer ler para tirar as minhas dúvidas!

Boas leituras!