"- O meu nome é Tom Hazard...
O nome em si contém demasiado. Contém todo a gente que me tratou por esse nome e toda a gente de quem alguma vez o escondi. Contém a minha mãe, Rose, Hendrich e Marion. Mas não é uma âncora. Porque uma âncora fixa-nos a um lugar e eu ainda não me fixei. Irei continuar a navegar pela vida eternamente a sentir-me assim? Um barco tem de acabar por parar. Tem de chegar a um porto, uma doca, um destino, conhecido ou desconhecido. Tem de chegar a algum lado e parar lá, senão, para que serve o barco? Já fui tantas pessoas diferentes, desempenhei tantos papéis diferentes na minha vida. Eu não sou uma pessoa. Sou uma multidão num só corpo.
Fui pessoas que odiava e pessoas que admirava. Fui empolgante, aborrecido, feliz e infinitamente triste. Estive do lado certo e errado da História.
Em suma, perdi-me."
Desde que li a sinopse de "Como parar o tempo" sabia que eventualmente teria de o ler. Havia qualquer coisa na história que me chamava.
Embora só tenha lido um livro do Matt Haig e nem sequer era ficção, houve qualquer coisa na escrita dele que ficou e me fez estar atenta às coisas que foram sendo publicadas.
"Como parar o tempo" só está na estante desde o mês de Fevereiro mas acabei por atropelar não sei quantas leituras para colocar este nos lugares prioritários.
Contudo, "Como parar o tempo" não me deu aquela vontade louca de que o mundo parasse à minha volta para que tivesse oportunidade de devorar o meu livro.
Conhecemos Tom Hazard com a sua aparência de 40 anos e a real idade de 439 anos. Não, Tom não descobriu o elixir da vida eterna, nem é imortal.
A patologia, benção ou maldição de Tom desenvolveu-se por volta da puberdade e enquanto a idade passa para todos as outras pessoas, para quem sofre anageria, o ritmo de envelhecimento é bastaaaaaaante lento. Se um ano humano equivale a 7 anos caninos, 15 anos humanos não chegam para dar um ar adulto a um "jovem" com anageria.
Um perigo para si mesmo mas acima de tudo para os que mais ama,
Tom carrega o fardo da culpa, do luto, do conhecimento e dos séculos de história que viveu. Nem os muitos anos que já viveu apagam os momentos mais trágicos que lhe levaram a mãe, a mulher que mais amou e a filha de ambos.
A única esperança de redenção é conseguir encontrar a filha que anda em parte incerta e a quem a genética também passou a perna. Marion tem a mesma patologia que o pai.
Até aqui tudo bem. Até aqui tudo óptimo, especialmente quando se mistura pequenos vislumbres de Shakespeare no Globe ou numa taberna duvidosa, de F. Scott Fitzegerald a virar copos nos anos 20 em Paris ou do quanto uma cidade como Londres mudou ao longo das épocas.
É Tom que não me arrebata, quem não me prende à trama. Mais que a luta interna com a culpa e com o luto pela mulher, é a sua placidez com a vida, tendo ele tanta para viver, que mais me aborreceu. O tempo que vive afastado do mundo ou completamente camuflado no meio de uma cidade no século XXI faz-me pensar "porque raio queremos todos viver mais tempo do que aquele a que estamos destinados?" ou pior ainda "será isto o que nos aconteceria se nos fosse dada a oportunidade de prolongar a nossa estadia no mundo dos vivos?".
Bem...talvez seja só eu que ando do contra com quase todos os livros que ando a ler.
Talvez esta não fosse a altura ideal para ler este livro, talvez fosse preciso lê-lo em dias de sol e não de chuva, talvez....talvez eu estivesse com as expectativas altas e o que me foi entregue ficou aquém do que eu queria encontrar.
Ser leitor é difícil mas ser escritor não deve ser mesmo nada fácil.
Creio que esta ideia no cinema, com os toques majestosos da passagem do tempo e a presença espectacular do Benedict Cumberbatch é bem capaz de me deixar finalmente tão maravilhada com achei que ia ficar ou talvez, como devia ter ficado.
Não se fiquem pela minha pobre opinião. O Goodreads está cheio de boas reviews e por isso mesmo, deixo-vos aqui uma frase que me agradou bastante.
"A minha cabeça apressa-se a tentar perceber. Isto acontece tantas vezes assim na minha vida. Passa-se tanto tempo a esperar por uma coisa - uma pessoa, um sentimento, uma informação -, que não se consegue absorvê-la quando surge à nossa frente. O buraco está tão habituado a ser um buraco, que não sabe como há de fechar-se."
Vá, agora vou ser o grumpy cat para outro lado.
E possivelmente dar a mão à palmatória e comprar o livro mais recente do autor "Os Humanos".
Até lá ficam com uma música que embalou a leitura deste livro.
1 comentário :
música muito adequada
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