Vicki Grant recupera o estudo do psicólogo nova-iorquino Arthur Aron que tem por base 36 perguntas que pretendem verificar se o relacionamento interpessoal pode sair beneficiado deste encontro entre dois estranhos. O estudo foi popularizado pela coluna «Modern Love» e agora Grant pegou nele para criar este romance e perguntar: pode o amor ser despertado por um punhado de perguntas?
"Hildy: Lá está esse tom novamente.
Paul: Não há nada de errado com o meu tom.
Hildy: Desculpa. Tens razão. Desta vez foi mesmo o que disseste.
Paul: Oh, agora tens problemas com a verdade?
Hildy: Equívoco popular. A chamada sinceridade nem sempre é a melhor política, especialmente se estás apenas a usá-la como desculpa para ser desagradável. (...)"
Paul e Hildy submetem-se ao estudo por razões completamente opostas e isso despoleta uma dinâmica divertida, sustentada por diálogos credíveis e inteligentes. Apesar de ser um livro juvenil, facilmente ganha adeptos de outros escalões etários. É um livro leve, mas bastante bem conseguido.
"Paul: O quê? Não aguentas uma boa réplica?
Hildy: Pensei que tinhas dito que não lias.
Paul: E então?
Hildy: Estás a mentir. «Réplica»? Isso é uma palavra de livro.
Paul: É uma palavra do Bugs Bunny.
Hildy: Não me lembro de o Bugs Bunny alguma vez ter dito «réplica».
Paul: Oh, bem, então devo estar enganado, porque obviamente decoraste cada palavra."
Apesar das motivações opostas, as diferenças sociais também acentuam esse fosso, no entanto, a forma como a autora compõem a vida de Hildy dá-lhe um outro universo particular que não cai na tipificação de miúda mimada com dinheiro, aliás torna-a um pouco estranha, tal como acontece com Paul.
"- Alguma vez te sentiste uma nulidade completa? - perguntou Hildy.
- Sim, todos os dias. Mas também cago todos os dias. Em ambos os casos, puxo o autoclismo, lavo as mãos e culpo o último tipo pelo mau cheiro.
Hildy não se riu."
Claro que nem de tudo é assim tão fácil de "lavar das mãos" ou de culpar os outros; Hildy, Max e Bob sabem disso!
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