Assumo, não sou uma fã do Harry Potter. Adormeci a ver o primeiro filme e nem sequer peguei num livro. Sim, eu sei. Sou uma muggle. Uma chata inveterada. Gostei da história da Elsa e aceito as desculpas da Avozinha doidona, este livro cheio de com reinos e magia, mesmo que a brincar, não é para as minhas delícias. Sou uma tipa mais áspera. Ainda assim gostava de voar de vassoura, com ou sem cachecol e ter um amigo como o dela. Adoro patudos, grandes e pequenos, de todas as cores e tipo de pêlo.
A historia da avó excêntrica e da neta Elsa, vítima de bullying, não é mais do que a história de duas lutadoras. A avó, que na excentricidade, encontrou a fuga à culpa, e a neta, que na inteligência ímpar, encontrou uma outra forma de ver o mundo, tentando esquecer a dor de não ter amigos da sua idade. O cão, a fera encurralada no palácio, não é mais do que um amigo dócil e protector. E, se todas as crianças deveriam ter um herói, então também todas deveriam ter também um cão.
"Ter uma avó é como ter um exército. É o derradeiro privilégio dos netos: saberem que têm alguém sempre do seu lado sejam quais forem as circunstâncias. Mesmo quando estão errados. Na verdade, principalmente quando estão errados.
Uma avó é, ao mesmo tempo, uma espada e um escudo. Quando na escola insinuam que Elsa é «diferente», como se isso fosse uma coisa má, ou quando chega a casa com nódoas negras e o director diz que ela tem de «aprender a integrar-se», é nessas alturas que a Avozinha a apoia. Nunca a deixa pedir desculpa. Recusa-se a permitir que ela assuma a culpa."
Elsa é especial. É diferente. É inteligente. E também é um bico de obra. A mãe que o diga, ou os vizinhos, ou até o pai. Com a sua inteligência, encontra estratégias e argumentos para se debater com quem lhe tenta fazer frente. E às vezes não se defende só com a inteligência.
"Foi então que o rapaz clamou que Elsa não podia ser o Homem-Aranha, porque «só os rapazes podem ser o Homem-Aranha», e Elsa argumentou que ele podia ser a namorada do Homem-Aranha. Portanto, ele empurrou Elsa contra a parede e Elsa bateu-lhe com um livro.
Elsa ainda acha que o rapaz lhe devia ter agradecido, pois é possível que nunca tivesse estado tão perto de um livro."
Elsa é perita em fugas, mas a partir da morte da Avozinha a fuga deixará de lhe ser possível e outros episódios passam a ser mais importantes. Convivência e solidão ganham outros contornos, à medida que as cartas que a Avozinha deixou vão sendo lidas.
O livro tem também algum humor e o que mais me fez rir, foi "encontrar" o meu sobrinho em algumas deixas e piadas secas da Elsa (que por sinal é o nome da minha irmã).
«A minha avó pede desculpa» de Fredrik Backman é um conto de fadas para adultos que ainda gostam dos feitiços do Harry Potter.
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