Afinal há lixo que tem valor!
Este podia ser muito bem ser o teaser para este livro.
Esta pode ser também a frase que resume tudo, mas que não conta nada sobre este livro.
O que me despertou à atenção em Trash, foi vislumbrar, numa primeira impressão, Lixo Extraordinário um documentário que eu adorei da autoria do artística plástico Vik Muniz. Mas agora troque o Jardim Gramacho do Brasil, por Behala na Índia e irá encontrar uma realidade igualmente dura, pobre, deteriorada e desesperante, onde crianças crescem à mercê do lixo e das surpresas que por lá vão aparecendo.
Apesar de ter o trabalho de Vik Muniz ainda muito presente no meu imaginário, essa sensação de semelhança e proximidade rapidamente foram varridas pela realidade de crianças como o Ratazana ou o corrupto Zapanta ou até mesmo a quase invisível Pia, cujo o pai me arrancou uma gargalhada enorme, silenciosa, infelizmente, já que num voo cheio de gente desconhecida e a dormir não iria apreciar o som estridente do meu riso a acordá-los do seu sono de beleza.
Lido em praticamente duas horas de viagem Trash é tão desconcertante como inocente. É um livro infestado e duro, fruto da realidade que descreve, embora infantil e com tendência a sentimentos brandos ou não fosse a quase timidez e simplicidade com que certos detalhes são escritos.
Em pouco mais de 200 páginas, Andy Mulligan consegue ter uma obra que prima pela simplicidade e quase consegue esconder a dureza do que é crescer numa lixeira, tal é a mestria de todos os seus personagens.
A meu ver, este livro consegue ser uma excelente aventura para os mais pequenos, que sem a devida explicação não irão atingir o quão tenebroso será a infância destas crianças e irão deliciar-se com as personagens e as suas vivências. Para os adultos, a leveza com que está escrito permite, por momentos, esquecer essa mesma dureza e realidade e sentir-se empolgado até ao fim. No entanto, o enredo pede que paremos para perceber o quão somos favorecidos e ricos em oportunidades.
O mesmo acontece ao vermos o documentário de Vik Muniz. Vejam e leiam, recomenda-se!
1 comentário :
Concordo com o que aqui foi dito. Acabei de ler o livro há dias e também gostei bastante. É certamente um livro que se recomenda a miúdos e graúdos!
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