sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

«Arco-íris» de Banana Yoshimoto :: Opinião


Na minha estreia com Banana Yoshimoto senti que regressava a um ambiente conhecido, melancólico, exuberante, exótico e até simples nas palavras, à boa maneira das autoras nipónicas, que foi como se já tivesse lido vários livros da autora. Mentira, foi o primeiro, mas sinto como se soubesse que decisões a protagonista ia tomar, onde ia vacilar, como ia defender com unhas e dentes os animais ou como ia relatar experiências cristalinas que colocariam o leitor a sentir locais desconhecidos como se lá estivesse ou até sentado à mesa num festim gastronómico enérgico, capaz de revitalizar energias e ânimos. E sentia que o âmago da questão não estava em qualquer paixão platónica, bem como a solução passava por apenas existir e sentir. 
Mesmo dito desta forma, não exponho nada que revele o curso da história ou sequer como Eiko resolve as suas dúvidas ou preenche a solidão que lhe fica após uma perda enorme. 

"Não me agradava de todo viver de recordações, porém às vezes, acontece que se toma consciência do valor que elas têm."

Eiko é uma mulher persistente e consciente do seu foco, embora um pouco abalada por as circunstâncias em que se encontro. O luto tem muito estágios e nada indica que por vezes, antes de se avançar, não tenhamos de recuar e fazer no novo a mesmo viagem. Resignificando-a. Compreendendo-a melhor. Dando espaço apenas para sentir.

"Todavia, o nosso silêncio não era embaraçante. Era um silêncio rico, um silêncio do sabor do ar, um silêncio feito daquele ar fresco que, se for aspirado profundamente, enche os pulmões com algo de belo."

Belo e simples. A beleza das pequenas coisas ;)

A contemplação, a natureza, a brisa do lago, as caminhadas ao luar: "(...) A Lua, como se fosse uma unha bem cortada, começava a descer e irradiava uma luz clara e difusa", os passeios com o cão Tarôt que apagavam nela a angústia e a tristeza e lhe permitiam voltar a sentir o mundo com uns olhos mais apaziguados, quase infantis - ansiosos pela descoberta. "(...) se o corpo se cala, a vista torna-se mais perspicaz".
Acalmando a ansiedade, Eiko segue mais consciente das ocasiões em que é mesmo necessário entrar em contacto com o mundo, sem deixar que o mundo a estilhaçasse mais.

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