Junte a essa sensação de enclausura, a pressão do tempo, do lugar, da opinião social... do fracasso familiar, de um casamento inócuo e sem sentido.
Junte ainda a inactividade das decisões, a complexidade da meia idade, a opressão que a guerra deixa, os afectos em crise e o desapego das formas mais humanas de vida... é a flacidez do orgulho!
É a angústia crescente de quem se sente a morrer em lenta agonia, juntamente com a negritude e a solitária Ferrara, agora frágil, fria, corroída.
Edgardo Limentani, latifundiário e homem forte de convicções, foi-o toda a vida, pelo menos assim pensará até à crise, não a da guerra, mas a sua, interior, profunda, magoada, ressabiada.
A presença da mãe, a mulher Nives, a filha com quem não sabia reagir ... enfim, anos perdidos da sua vida!
Limentani olhava o mundo como se via interiormente, com os olhos carregados de névoa, de frieza, de defeitos e de desprezo pelos dias cansativos que corroem a vida.
Mesmo na presença e na contemplação da Natureza, Limentani é isso mesmo, um lamento. A meu ver o nome tem uma sonoridade que funciona extremamente bem com o estado de espírito para o qual a narrativa nos desperta - o lamento. É como se as palavras e as imagens que se esbatem perante os olhos do personagem fossem um verdadeiro lamento, Edgardo, lamenta estar vivo. Edgardo preferia estar morto!
"Que bicho estranho" e de asa quebrada, eis a perfeita analogia!
A ilusão, o engano, o avanço nas horas e nos dias da vida, sem nada para atingir. Edgargo nada conseguia atingir, qual garça, qual movimento, qual força ou sentimento - lamentavelmente, era a irritação de quem tinha fome de vida.
O confronto com a ditadura imposta pelas horas, pelo arrastar dos dias... já só uma decisão o separava da desventura de estar vivo e cercado de todos os lado... era o impulso da força interior.
"- Boa noite - repetiu."
"- Boa noite, querido Edgardo"
*
Boa noite e boas leituras.
Uma leitura com o apoio
Sem comentários :
Enviar um comentário