segunda-feira, 18 de março de 2013

História Politicamente Incorrecta de Portugal Contemporâneo (de Salazar a Soares), Opinião

"Só os profetas enxergam o óbvio"


Assim disse: Nelson Falcão Rodrigues, jornalista e dramaturgo brasileiro a respeito de certos fenómenos, que mesmo estando (tão) debaixo do nosso nariz, tornam-se invisíveis!

Henrique Raposo autor de «História Politicamente Incorrecta de Portugal Contemporâneo (de Salazar a Soares)" quer fazer isso mesmo, ser um profeta ou tornar-nos a todos nós profetas. No entanto, a sua obra é polémica e factos ou não, debaixo do nosso nariz ou não, continuam a ocorrer diversos acontecimentos políticos, sociais, económicos e tantos outros que parecem invisíveis.

O autor é cronista no Semanário Expresso e portanto uma fonte credível, ou não!? Pelo menos parte das críticas que lhe são levantadas também põem em causa as suas próprias ilações e interpretação de factos actuais. Se já no seu « A Tempo e a Desmodo» é criticado e referenciado em alguns outros blogues, há também quem pegue e enalteça o seu trabalho e lhe reconheça a coragem de afirmar e desvendar tais factos.


O nosso papel como leitores, a título de portugueses curiosos, é isso mesmo: curiosidade, vontade de conhecer e de ler para também opinar. Por isso, opinar sobre um trabalho destes deixa-nos divididos, mas acima de tudo, alerta:
- Se tudo o que se lê é verdadeiro, e se são mesmo factos (a bibliografia é extensa e não a conhecemos) como é que até agora tantos factos têm tido tão pouco destaque?
- Henrique Raposo é polémico porque "põe o dedo" onde outros quiseram por um penso e tapar a ferida, esquecê-la!?
- Este é um livro que quer explicar a crise, ou parte dela? Este é um livro que ataca personagens sebastiónicas da nossa história? Personagens que a actualidade enaltece, mas que os mais velhos apontam o dedo? E sim, falo de Salazar, Cunhal ou Soares! As opiniões dividem-se, os factos confundem-nos, os valores baralham as contas e o balanço final...

Salazar não era o lacaio da Igreja, Salazar equilibrou e potenciou crescimento social e fomos mais ricos durante o Estado Novo - então Salazar foi bom?
Também não é bem isso, já que e destaque-se:
"O Estado Novo será sempre ilegítimo porque usou censura, policia política, não dividiu os poderes- porque era uma ditadura. Não é preciso dizer mais do que isto para tirar legitimidade a Salazar."

Mas afinal o que é um mito e quem cria o mito? O mito é uma verdade factual, não pois não!? é apenas uma tentativa aproximada de explicar o que na realidade se passou? É a nossa história recheada do cunho da oralidade e dos contadores de histórias?!?!? Existirão os cinco mitos que o próprio autor anuncia?
Afinal foi ou não Soares que nos levou pelo caminho da europeização? E que papel para os ultranacionalistas ou para os africanistas? E a própria Europa que interesse tinha em Portugal?

As questões são inúmeras e após a leitura do livro ainda mais. Aliás, basta retroceder aos tempos de escola para comparar o tipo de História ensinada. Basta chegar-se ao ensino superior e já nada é como "era dantes". Somos levados a crer que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontade" e que com a idade compreendem-se melhor os factos. Claro que teorias há muitas, interpretações ainda mais. É fácil desconfiar e acreditar em novas palavras que justifiquem e atribuam culpas pelos excessos e abusos actuais - será este livro mais um jogo de poder, serão estes conteúdos capazes de influenciar decisões de tantos portugueses que já não sabem no que acreditar?

Os tempos são difíceis e as respostas escassas, procuram-se soluções e descredibilizar o governo, os partidos e as caras que vão sendo sempre as mesmas.
Mas afinal mitos são mitos e não passam disso - será?
E o papel da Esquerda em Portugal? Terá um passado duvidoso como os comentários atribuídos a Soares? E se referirmos o papel colonialista e de ditadura cultural da esquerda? Poderíamos defender apontado-os como "embirrantes" como acontece na actualidade, onde por vezes parecem estar contra só por estar contra, criticando e minando as opiniões alheias, mas sem acrescentaram vitalidade, soluções ou energia a um discurso já gasto e repetitivo de quem "mais uma vez não concorda".

"Este odor a pólvora despeitada infectou o espaço público, impossibilitando qualquer tipo de debate racional (...)"

E eu acrescentaria que não só infectou como enfeitou o já oco, opaco e ambíguo discurso, tanto dos que tentam convencer, como dos que já não querem ser convencidos.
Não será esta frase o resume da actualidade? Será que o clima do final do século XIX se confunde agora com a crise identitária actual? Teremos nós actualmente um diálogo já fétido e banal, onde a escolha e a confiança entre Esquerda e Direita, ou escolhas mais centrais ou mais de extremos se confundem a elas mesmas com promessas.

"(...) Se a crise europeia continuar acesa e se as exigências do euro continuarem a impor reformas duras a Portugal, ainda vamos ouvir o seguinte da boca de Mário Soares: «Eu sempre disse que a Europa era uma vil construção neocapitalista.» Se o PS precisa do PCP para ser o árbitro do sistema político, Soares precisa de Cunhal para ser o árbitro da memória histórica."

A discussão poderia ir longe e aliás pode. No entanto e como disse inicialmente, somos leitores, curiosos, cidadãos, jovens, atentos, donos de uma opinião e também das suas próprias ilações. Parece-nos um livro apropriado ao contexto nacional, desprovido de falsas modéstias ou polimentos (o livro, é claro!). Henrique Raposo é dono de um discursos mordaz e de um espírito endiabrado que abre dúvidas no palco das nossas mentes já fragilizadas e ávidas por mudança. As certezas porém, quem as tem!? Por certo, nem só Henrique Raposo está na posse de todos os factos, como também quem o critica não encontrará só defeitos no que ele produz. Convém aqui dizer que a verdade incomoda muita gente e a acidez mitológica pode atacar digestões mais românticas e memórias mais alzaimicas

Um verdadeiro livro para discutir a Guerra e a Paz ;)
Boas Leituras


1 comentário :

Anónimo disse...

"O Estado Novo será sempre ilegítimo porque usou censura, policia política, não dividiu os poderes- porque era uma ditadura", outro livro surgirá para desmitificar o resto ,mas se é apenas isto , bem eu por mim apenas quero ser feliz , era capaz de ser feliz com isto , era capaz não sei mas no tempo que vivo sei que não sou !e depois censura existe actualmente , policia política não me diz nada pois não tenho azia vermelha internacionalista , não dividiu os poderes ? mas só por termos vários partidos estamos melhor ? é a democracia uma vaca sagrada ? mas afinal este regime não era o tal ? mas estamos ou não estamos melhor ? uma coisa é certa desde 74 animação não nos falta ! o país está a saque não me digam que isso é uma coisa boa !