Pedro Guilherme Moreira homenageia as vítimas do 11 de Setembro com este seu "A Manhã do Mundo". No ano em que se celebrou 10 anos do atentado às Torres Gêmeas, o autor lançou um livro que "pensa" essencialmente nas vítimas que se atiraram. É sobre os que saltaram que o leitor irá ler e travar o sufoco desta história.
"Aos heróis que a falta de visão de outros confundiu."
Corria o ano de 2001 quando, em directo, no telejornal e sensivelmente durante a hora de almoço ou de café de muitos portugueses um segundo avião embateu na Torre Sul. Chegámos a julgar tratar-se de um filme ou de filmagens para um... não parecia, aliás não podia ser real!!!
Mas foi! E este ano fará 14 anos que este acontecimento marcou a história de uma cidade, de um país e em larga escala, o mundo!
Foi arrepiante já ter visitado o Ground Zero Memorial e sentir que o medo, a consternação e a angústia ainda ali pairam no ar. Duvido até que aquele local venha a ter outra aura.
Visitámos inclusive a Trinity Church que serviu de base para médicos, bombeiros, voluntários, entre outros ajudassem as vítimas e os testemunhos que por lá foram deixados são impressionantes.
É emocionante este livro, lê-se com um nó na garganta. Sentir que o que se lê é sufocante, claustrofóbico e que o autor conseguiu trazer para a acção, o sentimento trepidante e quase assustador que assolou as vítimas é um excelente exercício de escrita. Há beleza em certos momentos, quando emoção, afecto, amor e amizade preenchem relações, mas há essencialmente medo, surpresa, dor e claro, despedida. O momento em que Thea, Mark, Millard, Alice, Solomon, saltaram. Eles escolheram e saltaram.
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Como encarar o suicídio? Como a etapa final da liberdade individual?
É essencialmente por aí que este livro começa, mas contêm em si muito mais.
O leitor é completamente levado a entrar nestas vidas que se cruzam porque dividem todos uma grande metrópole, convivem todos em torno de um marco social, económico e cultural da cidade.
De todas as histórias que desfilam nestas páginas, viajei com todas elas, mas mais ainda com Tzufit e Millard e ainda bem que quando a história vira - sim, uma vez que, a meu ver, este livro contêm outro livro dentro - há nesta história um reduto de felicidade e redenção.
Mas todas são tocantes a seu modo e a quantidade de vezes que reporta aos acontecimentos e ao sofrimento infligidos é o que já disse e não tenho outra palavra: sufocante.
"Bater naquilo que não se sabe bem o que é chega a ser um exercício cruel, espécie de planeamento a frio de um assassínio. A bondade é condição da inteligência no que toca à crítica do outro (...)"
Julgo que é neste acto de bondade, aqui literária, que o autor dá uma reviravolta na acção, expiando a culpa e os medos de outros, não só os que saltaram, permitindo-lhes um papel mais directo. Nessa segunda parte do livro, que poderia bem ser um independente, Pedro Moreira, questiona o salto de fé de uns e a condenação de outros, confrontando-os com hipóteses que assentam em universos paralelos. Pode existir quem não vá apreciar, mas julgo que isso é o que menos importa, importa pensar em cada uma destas pessoas e no enredo que se criou em torno delas e colocar um: "e se!?"
"Para voar, é preciso alguma fé. Não se voa pelo mero exercício da razão. E voar, na espécie humana, é um dos actos fundadores. (...) Para voar, apenas com o corpo, sem mecanismos artificiais, é preciso uma matemática própria (...) Há algo dessa precisão na fé."
Já quase no final do livro, surge a história de Z, como surgem muitas outras paralelas. A reflexão do eremita, que do topo da montanha, na excentricidade da sua vida em paz, avaliou o arrepio e a maldade humana é um relato muito lúcido.
Resta-me dizer que gostei bastante. Pedro Moreira tem traço próprio e quando cria um bom enredo vale muito a pena ler um livro dele.
No final, julgo que a mensagem é incentivar ao não esquecimento deste episódio com contornos mundiais e desde cedo nos diz isso mesmo.
"A multidão esquece rapidamente e não quer ser incomodada (...). Há entre os desmemoriados quem finja viver dias felizes, quando a humanidade gira constantemente sobre o vazio das mesmas falhas."
1 comentário :
Olá!
Já tinha visto este livro e fiquei bastante interessada. Gostei da sinopse.
Beijinhos e boas leituras.
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