É totalmente impossível passar por um título destes e resistir-lhe, "A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te" é um título brilhante, pois se remete para algo triste e possivelmente dramático, a conjugação das palavras em si é peculiar e bela.
Philippe Halsman / Magnum Photos (1945) |
Mas o irresistível não se fica por aqui e não se esgota no título, digamos que o miolo está em excelente equilíbrio; bem como a foto de capa da autoria de Philippe Halsman. Belíssima. Poderosa. E é nessa união de título e foto que se elevam mais as ideias. No entanto, este é um livro de luto, de perdas e de escrever para apaziguar a dor.
Enganei-me!
Rosa Montero não ficciona em «A Ridícula Ideia de não Voltar a Ver-te», não precisa! A grandiosidade de Marie Curie enche as páginas e preenche o leitor. O realismo e o impacto da escrita de Rosa Montero agarra-nos e transporta-nos para um mundo explosivo.
A Mulher é essa explosão. A Mulher é esse mundo, esse Universo que aguarda que espera e que exige, mais mulheres assim: destemidas, resilientes, soberbas, mas assoberbadas, tentadoras e tentadas, e na sua maioria: oprimidas, apaixonadas, devoradas, consumidas.
"A mágoa aguda é uma alienação."
Alienado não significa esquecido ou acabrunhado. Na alienação pode residir a determinação que só a mágoa, a solidão e a perda de uma pessoa conferem a outra. Aqui a mágoa assume-se como motor, como força propulsora.
"Posso afirmar que o sofrimento agudo é como um assomo de loucura."
Os assomos irados do luto levaram Rosa Montero até Marie Curie e em boa hora. A escritora e jornalista espanhola traz até ao leitor um registo biográfico que transmite, para além de factos, sentimentos e emoções. A admiração pela cientista francesa, mas antes de tudo, pela mulher é, provavelmente, um espelho onde a escritora se revê e expõe para que todas as mulheres se reflictam nele. Só lendo, entenderão.
Não será um livro especificamente para mulheres, mas ter sido escrito por uma faz toda a diferença. Até para nós, mulheres, ao lê-lo confrontamo-nos com certas perspectivas desafiadoras e introspectivas.
Se comecei por ter uma certa decepção com este livro, quando percebi que não seria uma ficção sombria e de exploração da dor, mesmo que com elevada dose de contenção na lamechice, não esperava um relato biográfico. Mas depois, ah depois... depois foi impossível parar. Fiquei rendida.
Fiquei a adorar Marie Curie e bastou-me a dado momento saber que a sua (minimalista!!!) lua de mel foi uma pedalada por França com Pierre... Isso bastou-me para sonhar mais um pouco e sentir-me menos estranha.
É ainda importante dizer que este livro é mais que uma biografia de Marie Curie, é quase um tratado sobre o papel das mulheres no virar do século XIX para o XX. Ao longo destas páginas são muitas outras mulheres e homens referidos e trazidos para o "debate".
Este seria um livro muito interessante para uma comunidade de leitores, para ler e discutir, seria com certeza uma partilha muito rica e muito acesa.
Este é um livro que facilmente se abre em qualquer página e se lê ou se relê. E por ali ficamos.
"Para viver temos de narrar-nos; somos um produto da nossa imaginação. A nossa memória, na realidade, é uma invenção, uma história que vamos reescrevendo todos os dia (...)"
Esta ideia de estarmos constantemente a escrever e a reescrever o fim, deixou-me a pensar.
A propósito disso deixo Patti Smith.
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