Negro, hilariante, mordaz, cru, real, enternecedor e frontal.
É assim que vejo este "Até que a morte nos una" e é por isso que esta leitura me conquistou por completo.
"Seria uma erro terrível viver a vida a pensar que as pessoas são a soma daquilo que vemos delas"
Foi a sinopse que inicialmente me captou a atenção. Anunciavam Judd como o recentemente encornado homem, filho e irmão do meio, que tem de voltar a casa de infância num período negro da história familiar, o funeral do pai e os consequentes sete dias de luto, apelidados na cultura judaica de Shiva. O que se prevê da clausura enlutada, abstémia, conflituosa e provocadora de uma família que lida mal com os sentimentos e é versada em humor negro? CAOS, prevemos o caos meus amigos!
Um irmão amargurado, uma irmã assoberbada, um benjamim com "mommy-issues", uma mãe psicóloga frontal e chocante, uma cunhada que não consegue engravidar, uma ex mulher adúltera mas linda de morrer, um rabino com má fama, um amor perdido, um sonho arruinado, uma vida sem sentido, tudo numa família complexa mas que, mesmo num momento de dor e perda, encontra espaço para lidar com o passado e endireitar o possível o estado da nação para voltarem a ser novamente uma família, não um bando de estranhos que cresceram na mesma casa.
A história de Judd, a sua demanda pessoal contra o estado emocionalmente decrépito em que se encontra após o fim do seu casamento, é-nos contada com os detalhes mais sarcásticos e hilariantes possíveis. Os sete dias na residência Foxman tem todo o tipo de dramas possíveis de imaginar, leva-nos por um expectro de emoções várias com que rapidamente nos podemos identificar.
Além das tremendas gargalhadas que me arrancou, visto que sou uma pessoa que também lida com a tristeza e o constrangimento com humor, por vezes, do mais negro possível, "Até que a morte nos separa" fez-me pensar no quanto deixamos o tempo passar, no quanto nos acomodamos à vida que temos, mesmo quando esta não é perfeita ou quando não estamos a usar nem metade do potencial que temos disponível.
Acima de tudo fez-me pensar numa coisa que não quero pensar, no quanto nos sentimos perdidos ao ficar sem alguém que nos é querido.
E para aliviar a tensão, a que ficou do tema, já que a história rapidamente me fez esquecer que esta gente voltava a casa para um funeral, achei que seria indicado ver o filme e por isso, aqui vai a opinião a mais um livro que se torna filme.
Opinião filme:
Vi o trailer muito antes de ler o livro ou saber que ele ia ser lançado em Português. Ter Jason Bateman no papel de Judd não era algo que abonava a favor deste filme, pelo menos no meu ponto de vista. O último filme que vi com ele foi uma treta mas assim que iniciei a leitura achei que de certo modo o actor encaixa na perfeição na personagem criada por Jonathan Tropper.
Na realidade, a escolha dos actores está perfeita!
Pensei que as alterações que fizeram na história ou até a omissão de uma cena que achei brutalmente hilariante e marcante para o personagem principal fossem razão para eu não gostar do filme mas tal não aconteceu.
A adaptação de "Até que a morte nos una" tem a essência da família Foxman, o sarcasmo dos irmãos de Judd, as batalhas pessoais que os afastaram do centro e o apoio incondicional que por vezes só encontramos naqueles que são nossos, que são os primeiros a julgar mas aqueles com quem podemos sempre contar.
Quer o filme, quer o livro, são uma ÓPTIMA ESCOLHA!
Não percam a oportunidade de ler ou ver o filme, acima de tudo de conhecer a história de Judd e dos que o rodeiam.
"Até que a morte nos una" é uma aposta
1 comentário :
também gostei muito e fiquei surpreendida! Estava com receio de ver porque os filmes anteriores com o principal já cansavam de ser um bocado repetitivos, mas fui surpreendida!
Boa semana e boas leituras!
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